A carreira de superação e reconhecimento de Cacá Lopes

A carreira de superação e reconhecimento de Cacá Lopes

Música - 7, maio, 2020

 

Pernambucano de Araripina, José Edivaldo está entre os muitos artistas nordestinos que foram fazer carreira no sul do país. Descobriu o próprio talento ainda sob os ares do ambiente rural nordestino, lá no sopé da Chapada do Araripe. Suas referências: ‘somente’ Luiz Gonzaga e Patativa do Assaré.

Hoje, aos 58 anos, é compositor, cantor e cordelista – além de professor, porque leva sua arte como ensinamento às escolas em projeto cultural por ele desenvolvido. Sua música é cantada por ele próprio e vários artistas nordestinos que também escolheram o sul para viver o progredir nas carreiras.

Encontro com Patativa do Assaré, em 2001

“Também tem gente de Minas, Rio de Janeiro e da Paraíba que canta as caminha composições. Meus estilos são MPB e forró pé de serra”, festeja.

Jailson Silva, que tem um estúdio e Antônio Carlos, ambos de Campina Grande, são dois dos artistas que cantam a obra de Cacá. Outro paraibano, mas este morando em São Paulo, que reproduz sua obra, é Dika de Monteiro.

Com o mestre Luiz Gonzaga, em 1987, no Parque Asa Branca, em em Exú

O maior sucesso de sua carreira é ‘Cacá quer caqui’, um arrasta pé. (Ouça aqui). Gravada em 2017, a música tem execução tão versátil, que também pode ser classificada como frevo e o o próprio artista a gravou como xote.

Hoje conhecido pelo público paulista como Cacá Lopes – nome artístico que adotou após apresentar-se no programa de Jô Soares, ainda no SBT 20 anos atrás – tem dez discos gravados, 30 folhetos de cordel e livros publicados, em 36 anos de carreira.

Entre os escritos em cordel estão ‘Hino Nacional Brasileiro em Cordel’, ‘A invasão do estrangeirismo’, ‘Cordel do trava língua’ e ‘Provérbios engraçados’ (Ed. Luzeiro). Também há os os livros ‘Cinderela em Cordel’ (uma adaptação da obra de Charles Perrault, pela Editora Claridade) e ‘Vida e obra de Gonzagão em cordel’ (da Ensinamento Editora, distribuído pela Imeph).

Mas antes de fazer arte trabalhava numa bodega, casa de comércio ainda hoje muito comum no país todo. Também estudava e chegou a fazer o curso de Letras.

O primeiro contato com o público, entretanto, foi através das ondas do rádio. Em 1981, então aos 19 anos, iniciou atividade como locutor na emissora Rádio Grande Serra AM, ainda em Araripina.

Contracapa do primeiro disco, ‘Cantos e Encantos’

“O rádio era só um sonho de criança, a primeira vocação. Apresentava um programa de variedades com 4 horas de duração. Vários quadros no horário. No rádio fiz de tudo um pouco: repórter, redator, discotecário, etc”, revela Edivaldo, que ficou por três anos na emissora, até realizar seu segundo sonho que era iniciar a carreira de cantor. Na mesma rádio lançou o primeiro disco – ‘Cantos e Encantos’.

Após essa estreia, José Edivaldo transferiu-se para São Paulo, onde vive até hoje com a família e tocando a carreira e integrando o ativismo cultural com participação nos coletivos Fórum Paulista do Forró, SP Forró, SP Cordel, Cordel na Paulicéia e o seu projeto solo ‘Cordel na Paulicéia’.

Também foi parceiro e amigo de Patativa do Assaré, na música ‘A Terra é Nossa’, lançada no primeiro LP (vinil) dele, em 1989.

Numa das apresentações em escolas públicas de São Paulo

Incrível prova de superação

Até aqui, a nossa narrativa sobre José Edivaldo, o hoje Cacá Lopes, descreve uma história corriqueira de um menino do interior do Nordeste que sonhou e fez por onde realizar o que queria da vida.

Mas o cotidiano de José Edivaldo foi bem mais difícil, não só pelas já conhecidas limitações econômicas da região onde nasceu, mas pela própria condição dele, que aos 2 anos sofreu paralisia infantil e perdeu os movimentos do braço esquerdo.

Com a família: pais pernambucanos, filhas paulistas

Passou toda a vida com essa dificuldade, que aos poucos foi sendo superada pelos sonhos. Não foi empecilho, por exemplo, para aprender violão e hoje toca e canta.

“Abordo nas letras os sonhos de dias melhores, o amor a vida, a natureza e o incentivo à leitura”, explica Cacá. Ele se casou há 18 anos com Elielma Carvalho, uma sertaneja também de Araripina, e com ela teve duas filhas Rafaela de 17 anos e Alice de 8, ambas paulistas.

 

(José Carlos dos Anjos Wallach)