Como muitos, cheguei e fui adotado. João Pessoa tem esse poder de se apropriar dos corações. Bela, cheia de verde – apesar dos desrespeitos. Praias maravilhosas, pequena na geografia e grande na capacidade de agradar e guardar.
Recifense do Pina, passei por Campina e parti da Serra da Borborema assim que o Brasil levantou o caneco em Guadalajara 70. O destino: João Pessoa. São 48 anos nessa convivência pelas ruas da Philipeia.
Meio século já explica o amor que se adquire pelo lugar. Mas como se justifica o gosto pelo passado da cidade? Tenho essa mania de olhar as vias, conjuntos residenciais, prédios, bairros e tentar imaginar como eram esses lugares antes de chegarem tais obras.
Então, como se explica isso, uma nostalgia daquilo que não se viveu. Ver fotografias antigas de João Pessoa me dá a sensação de que passei por tais paisagens ainda no passado. É um sentimento curioso, interessante. Dá até saudade.
Pautado para escrever um texto expressando como sinto e vejo a cidade, lá fui eu influenciado por essa nostalgia inexplicável – que vou chamar agora de ‘curiosidade pelo passado’.
Montei a estratégia visitando a exposição na Casa da Pólvora, onde há 40 fotografias feitas na primeira metade do século passado pelo grande Walfredo Rodrigues. Assim teria ao menos os registros do grande fotógrafo como parâmetro para fazer comparações com os ambientes atuais.
A surpresa – muito boa, inclusive – foi saber que, até setembro, outra exposição fará uma releitura do trabalho realizado há um século por Walfredo. O público verá fotografias de Germana Bronzeado e Adriano Franco, que passaram três meses captando imagens de João Pessoa, tendo como base os ângulos usados nas fotografias antigas. A curadoria da exposição é de Joálisson Cunha.
Como a ideia foi fazer a releitura do trabalho de Walfredo, então essencial seria manter os mesmos ângulos, luz, expressão. Os fotógrafos tiveram que trabalhar somente nos fins de semana, porque precisavam das ruas sem movimento, ou com o menor possível.
O resultado impressiona por causa do impacto causado pela abrupta diferença de imagens, apesar de focarem o mesmo objeto.
O que a exposição ‘Resgatando a obra fotográfica de Walfredo Rodrigues’ nos remete é a velocidade silenciosa do tempo. As captações de Germana e Adriano, em sobreposição às de Walfredo, também nos mostram a poesia da cidade antiga e denunciam desapego que a cidade nova tem para com o seu passado.
“Como era linda a cidade!”, uma frase quase inevitável quando comparamos as fotografias.
Em alguns casos – sobretudo na porção central da cidade – é possível verificar que boa parte dos prédios antigos sobrevivem, embora combalidos pela falta de uma política de preservação. A exposição mostra que, se houver decisão, é plenamente possível resgatar aquela beleza da João Pessoa do início do século passado.
Passear pela cidade tendo como referência as fotografias antigas nos mostra como é importante preservar, e também como é possível resgatar o patrimônio histórico que ainda é vibrante.
A exposição
Aberta no sábado (3), a mostra vai até 20 de setembro, no prédio administrativo do Centro Cultural Casa da Pólvora, em João Pessoa. Os fotógrafos Germana Bronzeado e Adriano Franco fazem releitura de Walfredo Rodrigues.
(José Carlos dos Anjos Wallach – texto publicado na edição comemorativa dos 434 anos de João Pessoa, do Jornal Correio da Paraíba, de 5/8/19)