Atrativo de Duas Estradas é o patrimônio histórico

Atrativo de Duas Estradas é o patrimônio histórico

Eventos - 15, outubro, 2019

 

Comer uma galinha de capoeira, com feijão verde e farofa de ovo é um prazer corriqueiro no interior nordestino, uma alimentação comum para quem mora nas pequenas cidades. Para quem vem da cidade grande, dos centros urbanos, esse prato é gastronomia regional e assume um status poderoso ao virar atrativo turístico.

Essa é a lógica buscada para desenvolver o turismo nas diversas regiões: vender o que se tem em casa para atrair quem não conhece. Nesse contexto, comida, arte, patrimônio histórico, costumes, passeios e a natureza do lugar se transformam na redenção de muitas famílias e na melhoria econômica do lugar.

Prefeita Joyce conversa com os jornalistas

É nessa via que trafega a pequena Duas Estradas, no Brejo da Paraíba, a cerca de 113 km de João Pessoa (seguindo pela BR-101 até Mamanguape).

O visitante perceberá duas coisas que o farão valorizar a cidade: a história e a gastronomia regional.

O patrimônio histórico é potencialmente uma força no processo de desenvolvimento turístico, porque a cidade tem em seu casario mansões do final do século 19 e início do século 20, cujos ocupantes e seu cotidiano exerceram papel primordial na fixação de um núcleo populacional que mais tarde se transformaria em cidade.

Um dos casarões da família Costa: prédio é importante, mas está em ruínas porque ao proprietário só interessa vendê-lo

A cozinha duas estradense é outro ponto importante nesse contexto. É comum se dizer que no interior se faz a melhor e mais simples comida, e a cidade é uma prova dessa máxima.

Esses dois valores locais estão sendo explorados na Rota Cultural Raízes do Brejo, um circuito que usa a filosofia e conceitos da economia criativa para desenvolver a microeconomia a partir do turismo.

Um dos prédios do conjunto da antiga ferroviária, que foi recuperado pela atual gestão

A rota envolve os municípios de Duas Estradas, Belém, Alagoinha, Lagoa de Dentro, Serra da Raiz, Borborema, Dona Inês, Pirpirituba e Pilõezinhos. A atual edição, a terceira, começou em 20 de setembro e segue até 1º de dezembro, sendo uma semana em cada cidade.

O circuito é elaborado e executado pelo Fórum de Turismo do Brejo e tem como parceiros o Governo do Estado e a iniciativa privada.

Esta ação segue os passos do já consolidado Caminhos do Frio, outra rota cultural que enfoca cultura, gastronomia, arte e turismo, também na região do Brejo paraibano.

Ramesses Henrique, procurador do município, também recepcionou os jornalistas e atuou como guia, explicando detalhes históricos

Visita

No último domingo (13), um grupo de jornalistas reunidos em fampress organizado pela Empresa Paraibana de Turismo (PBTur) foi conhecer Duas Estradas e prestigiar o encerramento da etapa local da rota cultural.

Nós do Festar não conhecíamos a cidade e a impressão que tivemos foi essa: uma cidade pequena, com história e de espírito empreendedor. Ter esse espírito, aliás, é uma necessidade.

A jovem prefeita Joyce Renally, eleita em 2017, nos disse que o foco de sua administração é o tradicional em saúde, educação e segurança – “maiores demandas da população” – mas ressalta que o diferencial fica para o resgate do patrimônio histórico e da cultura regional. Não precisa ser especialista para saber que um olhar assim tem o potencial de fortalecer o turismo.

Ramesses e Joyce na recepção à fampress organizada pela PBTur

“Desde que entramos na Prefeitura, temos buscado arrumar a casa e valorizar a cultura”, afirma a prefeita, enumerando as ações: recuperação da antiga estação ferroviária, construída há 115 anos pela companhia britânica Great Western, agora abrigando uma biblioteca e exposição de artesanato; a construção da Praça da Bíblia, em frente à Igreja Sagrado Coração de Jesus; e do Mirante do Cruzeiro de São Francisco, localizado no ponto mais alto do município, com vista espetacular da região e pôr do sol magnífico.

A prefeitura também tem investido na Casa Azul, pertencente aos Costa, que foi o núcleo familiar responsável pela transformação do local primeiramente em povoado – a Vila Costa. A casa azul é um antigo sobrado que atualmente é usado como espaço cultural , destinado a realização de eventos.

Curiosidade

A visita dos jornalistas seguiu por esses pontos e incluiu o mausoléu da Família Costa onde, curiosamente, não há ninguém sepultado. Isso porque o homem que o construiu, Firmino Costa, filho do patriarca Antônio José da Costa, muito doente, mudou-se para Nova Cruz-RN em busca de melhor assistência médica. Mas morreu e lá foi sepultado.

Visita guiada ao mausoléu da família Costa

A história de cada local foi narrada por Ramesses Henrique, procurador municipal. Juntamente com a prefeita Joyce e a secretária de Comunicação Flávia Rocha, ele recebeu e orientou o grupo de jornalistas na visitação a pontos históricos.

Conhecemos também a Igreja Sagrado Coração de Jesus, aí sim onde está a tumba de Francisco José da Costa, conhecido como Coronel Costinha, falecido em 1938.

A construção desse prédio começou em 1919 e foi finalizada em 1923. O padroeiro foi escolhido pela esposa do coronel, a dona Júlia Coelho Costa.

Praça da Bíblia e, ao fundo, a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, onde está sepultado Francisco José da Costa

Na igreja, assistimos as apresentações de jovens do grupo Estação da Música, coordenado pelo professor Edno Santiago. “Atendemos 40 crianças e adolescentes com aulas de musicalização. São meninos e meninas que encontraram aqui outro sentido da vida. Alguns conseguimos até mesmo retirar das drogas”, explica.

Também se apresentaram as senhoras do grupo Flor da Idade, um coral da terceira idade que, assim como o grupo de jovens, resulta das ações do Serviço de Convivência criado pelo município.

O prazer da boca

Um dos momentos mais prazerosos, claro, foi o almoço. Caprichosamente montado na Casa Azul, esse encontro nos mostrou como a simples gastronomia local pode ser um atrativo.

Dona Cícera, conhecida na cidade como Nega, preparou uma mesa onde o carro-chefe foi a galinha de capoeira e os acompanhamentos foram feijão verde, picado, farofa, arroz da terra, saladas e frutas. O sabor é irresistível.

O almoço caseiro delicioso preparado pela dona Cícera

Ela não tem restaurante e faz seus pratos em casa, atendendo por encomenda. Além de almoços, prepara salgadinhos e lanches. É uma microempreendedora que se vale da própria cultura para fazer dinheiro.

Assim como a jovem Laís Adênia, que mesmo não estando presente por causa do volume de encomendas, nos deixou uma grata surpresa, um doce de boas-vindas.

O doce ‘Delícia de Duas Estradas’: abacaxi, coco, massa branca e cachaça Alegre, fabricada na cidade

Após o almoço, a sobremesa ‘Delícia de Duas Estradas’ deixou todo mundo de boca aberta – querendo mais. À base de abacaxi, coco, massa branca e cachaça, o doce foi criado por Lais exclusivamente para a edição deste ano da Rota Raízes do Brejo. Como diriam os especialistas: “Divino”. A bebida usada na receita é a Cachaça Alegre, fabricada em Duas Estradas e um parceiro no evento.

Localização e história

O centro de Duas Estradas está no meio de pequenas serras que se espalham ao seu redor. É como se a cidade estivesse no fundo de uma bacia formada por morros.

Com área de 26.341 km2, faz limites com Araçagi, Curral de Cima, Lagoa de Dentro, Serra da Raiz e Sertãozinho. Nova, a cidade completa 58 anos de fundação em dezembro e tem 3.640 habitantes, de acordo com o censo de 2010.

Colinas e serras rodeiam Duas Estradas

O município tem economia frágil como a grande parte das cidades nordestinas, valendo-se praticamente das transferências estaduais e federais para manter a estrutura administrativa e os serviços.

O industrial Antonio José da Costa é considerado o fundador do que mais tarde viria a ser Duas Estradas. Em 1903 foi chamada de Vila Costa. Depois virou distrito de Caiçara. Foi subordinado posteriormente a Serra da Raiz, antes de chegar a status de município.

A cidade foi fundamental na época em que se implantava a malha ferroviária no Nordeste. Foi lá que Geat Western construiu o entroncamento que ligou Paraíba a Rio Grande do Norte, dando continuidade a uma via que já vinha de Recife.

 

(*) Um pouco mais da história e do domingo de festas que vivenciamos em Duas Estradas você vê também no nosso canal no YouTube: Duas Estradas

(José Carlos dos Anjos Wallach e Cira Lira)

 

Abaixo, a galeria tem fotos realizadas pelo Festar e pela maioria dos jornalistas que estiveram no Fampress. Clique para ampliar a imagem