Carnaval de PE: o maior, mais diversificado e mais empoderado

Carnaval de PE: o maior, mais diversificado e mais empoderado

Eventos - 24, janeiro, 2023

As cores e a irreverência dos blocos e clubes de orquestra em Olinda e do gigante Galo da Madrugada, em Recife, são as maiores referências do carnaval Pernambucano, para o Brasil e exterior.

Mas o ‘reinado de momo’ nesse Estado é muito mais – muito mais mesmo – do que é visto na Marim dos Caetés e na Veneza Brasileira.

Pernambuco tem um circuito carnavalesco tão grande quanto diverso em suas brincadeiras, expressões, costumes, tradições, personagens e cidades.

A partir de Recife e Olinda, em direção ao interior pernambucano, o carnaval vai mudando, à medida que vamos passando, por exemplo, em Nazaré da Mata (a 68 km de Recife), onde reinam os Maracatus rurais, dominado por caboclos e lanças, trajados em vestimentas pesadas, elaboradas com muitas cores e muito sacrifício financeiro desses brincantes pobres da comunidade. Aliás um ritual de superação que é comum em quase todos os grupos carnavalescos – é o povo que mantém a tradição.

Nazaré da Mata, o reino dos maracatus

Trinta e dois grupos de maracatu rural se encontram na segunda-feira de Carnaval, na Praça da Catedral, para a sambada mais importante do ano. O grande encontro anual do maracatu de baque solto atrai não só pela sonoridade das toadas cantadas, mas também pela grande beleza das cores das roupas dos caboclinhos.

No baque solto, um homem designado como mestre utiliza um apito e uma bengala para comandar o grupo. Há registro de maracatus rurais da região desde a década de 1890.

Os papangus de Bezerros

Seguindo pela BR-232 – a rodovia federal que corta o Estado de ponta a ponta – após percorrer cerca de 120 km, o folião se depara com novos personagens: os papangus, uma tradição centenária em Bezerros, no Agreste do estado.

São foliões que se vestem com túnicas coloridas e ornamentadas e percorrem as ruas da cidade no domingo de carnaval, usando máscaras de papel maché.

Originalmente, ‘papa-angus’ surgiram no século 19 entre familiares de senhores de engenho que comiam angu durante o carnaval. Desde que as emissoras de televisão começaram a transmitir o desfile nos anos 1990, os brincantes passaram a requintar as fantasias.

Os papangus se concentram na Praça da Bandeira, entrada da cidade, a partir das 9h. Neste ano, a Prefeitura espera a participação de 300 mil foliões e informa a mobilização de 50 troças e blocos.

Tabaqueiros

Na cidade de Afogados da Ingazeira (376 km de Recife), os personagens centrais da folião são os tabaqueiros, figuras folclóricas que colorem as ruas. Os moradores fazem as próprias máscaras e participam de um concurso promovido pela prefeitura da cidade que escolhe as melhores fantasias.

Os tabaqueiros receberam esse nome por utilizarem uma bolsa com tabaco, que cheiravam quando desfilavam no século passado. Não se sabe ao certo o ano que da brincadeira começou. Os tabaqueiros são encontrados em toda a cidade durante todo o período carnavalesco.

Caboclinhos e muita história em Goiana

Invertendo a direção, e saindo de Recife em direção ao Norte, o folião que seguir pela BR-101 vai encontrar, a 65 km, cidade de Goiana, na metade do caminho até João Pessoa-PB.

Goiana é palco de episódios dramáticos da história da colonização brasileira, como a ‘tragédia de Tracunhaém’ (1574), que também poderia ser chamada de ‘vingança de Tracunhaém’, um ataque de índios potiguara, que mataram todos no engenho Tracunhaém para vingar a morte da filha do cacique.

Hoje, os antigos e ferozes caboclos são representados pelos grupos de caboclinhos de Goiana, dança folclórica pernambucana. Longe das guerras do passado, os caboclinhos são vistos brincando na folia.

Da madrugada do sábado para o domingo de carnaval, por exemplo, é realizada a caçada ao boi, uma espécie de tourada cênica adentrando na mata em que vários dançarinos, fantasiados de índios participam.

A tradição dos caboclinhos de Goiana tem mais de 100 anos, com grupos como o Cahetés, que completa 119 anos. Além dos caboclinhos, acredita-se que Goiana guarde as duas orquestras de frevo mais antigas da América Latina, Saboeira e Curica, criadas na época do Brasil Império.

Em Tabira, os Cavaleiros da Rosa Mística

Voltando à rota do sertão profundo pernambucano, a folia de momo toma ares de requinte. Lá no Pageú, numa cidade chamada Tabira (401 km de Recife), o carnaval tem os elegantes componentes do bloco Cavaleiros da Rosa Mística.

Com vestimentas impecáveis a melhor estilo anos 20, tabirenses e foliões de outras cidades próximas passeiam pela cidade abusando dos confetes e das serpentinas. Frevo tocado por orquestra com músicos da região é o som que anima o desfile. Os cavaleiros também vão até Afogados da Ingazeira no dia da abertura oficial da cidade, no sábado de Carnaval.

Encontro de Bois

Timbaúba (100 km de Recife) tem um carnaval diversificado, mas o que chama a atenção para a festa da cidade é o encontro dos mais de 60 grupos de bois que acontece no domingo de carnaval.

A tradição de brincar seguindo um homem vestido de boi começou no final dos anos 1960 e, atualmente, o carnaval tem o maior número de grupos da história local.

Caiporas

A Caipora é uma lenda do folclore pernambucano. Trata-se de um ser sobrenatural que caminha pela mata assustando as pessoas que caminham à noite.

As caiporas utilizavam tochas para espantar quem entra na mata e só se acalmam quando pegam cigarros deixados no tronco das árvores.

Em 1962, surgiu o Bloco dos Caiporas em Pesqueira, com pessoas de todas as idades imitando as lendárias caiporas e assustando os moradores da cidade. Atualmente, a fantasia dos caiporas virou um símbolo do carnaval da cidade.

Pesqueira fica a 212 km de Recife, e os caiporas se concentram a partir das 9h na praça central da cidade.

Caretas

Triunfo também fica longe de Recife (405 km), tem clima frio. Mas no carnaval as coisas esquentam com os caretas. O povo se esconde atrás de máscaras que expressam mau-humor, mas não passa de susto.

As caretas pintadas são um resquício da origem da brincadeira, que não tem a ver com o carnaval. No começo do século passado, quando pessoas expulsas de uma apresentação de Natal, por estarem bêbadas, resolveram caminhar pelas ruas balançando chocalhos.

Hoje, os caretas capricham nas suas roupas e máscaras, carregam lousas com mensagens e chicotes. Assim como os tabaqueiros, são encontrados pelas ruas da cidade durante o período de momo.

Blocos em Vitória de Santo Antão

A beleza do carnaval de Vitória do Santo Antão (51 km de Recife), na Mata Sul do estado, está nos mais de 150 blocos que desfilam pelas ruas durante todos os dias da festa carnavalesca. Os clubes mais tradicionais chamam a atenção do folião do interior.

A Zebra, O Camelo, O Urso Preto e O Cisne fazem a alegria dos brincantes, que vestem fantasias de animais para acompanha-lo.

Mas é na segunda-feira de carnaval que acontece o tradicional ‘encontro de bichos’, na praça Matriz da cidade. A concentração é em frente à sede do animal mais antigo da Terra das Tabocas: o Leão, bloco que completa 121 anos.

(José Carlos dos Anjos Wallach, com pesquisa na web)