Com a poesia afiada, Pinto tem agenda cheia e vai preparar CD

Com a poesia afiada, Pinto tem agenda cheia e vai preparar CD

Música - 5, junho, 2018

 

Aos 70 anos completados em fevereiro, Pinto do Acordeon se mantém na atividade, fazendo shows, escrevendo e compondo músicas. Forrozeiro da escola tradicional, ele é um dos artistas mais requisitados durante os festejos juninos, tocando em toda a Paraíba.

“A agenda está definida. Depois do Carnaval, o telefone começa a tocar. Quem chega primeiro me leva”, diz ele com o sorriso no rosto e a simplicidade que o caracteriza. “Eu tô me fortalecendo, preservando a minha voz. Porque vou fazer um bocado de coisa por aí afora”.

Na lista de cidades da turnê junina, Pinto deve se apresentar em Patos, Sousa, Campina Grande e sua terra natal Conceição, para citar os principais eventos. “Todo ano tenho um caminho certo, graças a Deus sou bem solicitado. Se eu fosse uma ninhada de pinto, não dava conta”, brinca.

Há duas semanas, Pinto recebeu amigos artistas em casa no Bessa, em João Pessoa, e promoveu uma roda de forró da qual participaram Antônio Barros e Cecéu, Hermelinda (Trio Mossoró), Preto Guarabira, o trio Filhos do Forró, Geovane Jr e o sanfoneiro mirim Lucas Gabriel.

Do encontro, organizado pelo blog Festar Muito, também participaram a produtora do trio Os 3 do Nordeste, Lisete Edrás, e mais alguns amigos, entre eles Alfranque Amaral, pai do sanfoneiro Lucas. A anfitriã foi Madalena, esposa e empresário de Pinto.

Tem música, falta espaço

O artista disse que está preparando novas músicas para gravar um CD, mas reclama da falta de espaço para sua obra nas emissoras: “Tem música, só falta rádio”. Assim como outros artistas da velha guarda do forró, mas que estão a postos, Pinto do Acordeon se recente da invasão do forró eletrônico e de ritmos sertanejos nas programações radiofônicas.

“Hoje só toca uns boleros. Pelo menos eles respeitam e não estão chamando de forró: é a sofrência”.

O forrozeiro calcula que sua categoria artística tem uma luta muito grande pela frente diante de um contexto em que a mídia privilegia outros ritmos e praticamente não executa mais o forró tradicional.

“O rádio já emprenhou os ouvidos das crianças e da juventude. Tá perdido. Enquanto não tiver um testa de aço pra entrar no rádio e mudar…”, lamenta o artista. Ele conta que quando foi candidato a vereador em João Pessoa, fez sua campanha com uma música – ‘Matuto Teimoso’ – e foi a força da mensagem e da insistência do rádio, que executou muito a composição, que o ajudou a conquistar a vaga no Legislativo.

“Tony Show botava todo dia e o povo dizia: ‘vou votar no matuto teimoso”, lembra, reforçando seu entendimento de que vai depender da imprensa a mudança de leitura que levará o forró tradicional novamente a ter mais audiência.

“Fico torcendo pra ouvir minhas músicas no rádio. Recentemente participei de um programa aí descontei: pedi pra tocar um monte das minhas músicas. E o povo começou a ligar pedindo mais…então tem público”, argumenta.

A entrevista com Pinto foi realizada na casa dele, no bairro do Bessa, e foi publicada pelo jornal Correio na edição do domingo (3)

Desunião

O ‘matuto teimoso’ acha que outros fatores podem tornar essa luta ainda mais árdua, entre eles a desunião da categoria e a despreocupação com a qualidade técnica, sobretudo nos shows. Pinto considera que os forrozeiros são desunidos e, por isso, agem completamente diferente dos artistas do estilo sertanejo – que, por exemplo, “se juntam para dar cobertura ao que está começando”.

Pinto do Acordeon também vê a necessidade de mais organização dos forrozeiros. Ele acha que esses artistas precisam ter mais cuidado técnico nas suas apresentações e nos seus produtos. Essa visão mostra que Pinto é um artista que não parou no tempo, que consegue observar as transformações que exigem mais tecnologia no produto cultural para conquistar novos públicos.

Mais um CD

Pinto disse que após o São João vai entrar em estúdio para montar seu próximo CD. As músicas, afirma, não são nenhum problema porque há muitas: “Tenho um caderno cheio, dá pra uns dez CDs”, garante. O músico diz que em algumas composições falta “dar polimento” e fazer arranjos, mas que a maioria está bem encaminhada.

Ele recorda que houve uma época em que escrevia e compunha algumas obras já pensando nos artistas que iam interpretá-las. Cita que fez músicas assim para Flávio José – “Ele já gravou bem umas 15” -, Fagner e outros. E revelou que está fazendo outro para Flávio: “É sobre o Cariri, a terra dele. Ele vai gostar”.

(José Carlos dos Anjos Wallach e Snides Caldas)