E tome frevo nas ladeiras de Jampa

E tome frevo nas ladeiras de Jampa

Eventos - 7, março, 2019

 

O bloco ‘E tome ladeira’ completou um ano de existência e, já no seu segundo desfile – no domingo de Carnaval – triplicou o número de foliões que o acompanharam por algumas ruas e ladeiras do Centro Histórico de João Pessoa.

Muito colorido, divertido, bem humorado, com energia, o bloco fez sua concentração no início da tarde e segurou até quase meia-noite uma festa animadíssima na Avenida General Osório.

O grupo As Calungas abriu o som na concentração

Organizado pelos proprietários da General Store, uma camiseteria que abriga um aconchegante pub e um espaço de shows que tem se tornado uma das referências culturais da Capital – o bloco ‘E tome Ladeira’ é o caçula do carnaval de rua de João Pessoa. Nasceu fazendo referência às ‘ladeiras sagradas’ de Olinda e seu carnaval de frevos e regionalidades.

No último domingo o bloco mostrou que tem fôlego para sustentar a folia por aqui, porque tem autenticidade e fez a excelente escolha de dar destaque ao frevo e as marchas tocadas por uma orquestra de metais. Isso que é especial.

Naipe de metais puxou os foliões

O grupo As Calungas abriram a animação durante a concentração, mostrando sua arte em percussão, músicas regionais e uma presença bonita na avenida. Elas então entregaram o papel de liderar a festa à pequena orquestra que fez um curto trajeto com os foliões, descendo a Ladeira Feliciano Coelho, pegando à direita na Rua São Mamede, contornando pela Praça Dom Ulrico, passando em frente à Catedral Basílica de Nossa Senhora das Neves e retomando a General Osório.

Mas também, como um bloco cujos adeptos são 90% jovens – acostumados aos shows de rock e música paraibana que a General Store promove em suas agendas semanais – a organização soube associar outros ritmos, sem ferir a majestade do frevo. Para isso, convocou a DJ Ingrid para pequenas incursões de funk, numa quebradeira gostosa e sem excessos, justamente na ladeira que desce ao lado na sede do bloco.

Da sacada do prédio, Ingrid e suas pick ups comandaram a festa, que ficou parecida com uma pista de dança, cheia de fantasias coloridas e bem humoradas, para não esquecer que ali era um baile carnavalesco no meio da rua. Gostoso demais, por causa da liberdade que se sente ao se infiltrar na turma.

Titá Moura no microfone e a Caburé fazendo o som foram as atrações seguintes. Entraram em cena mais frevo, um pouco de axé das antigas e carimbó. Depois, novamente Ingrid assumiu o comando, até que ajustassem o som no palco montado no meio da avenida para a apresentação do irrequieto percussionista Escurinho, último artista a se apresentar.

A boa folia está engordando

Assim como As Raparigas de Chico Buarque, no Sábado de Zé Pereira, que lotou o Ponto de Cem Réis, o ‘E tome ladeira’ demonstrou que há muito fôlego e conteúdo para o carnaval de rua de João Pessoa, após a era dos grandes blocos movidos a inumeráveis trios elétricos e desfigurados musicalmente.

Após o desfile do sempre bacana Cafuçus, na sexta-feira anterior ao Reinado de Momo, esses dois pequenos (?) blocos conseguiram segurar uma boa parcela de foliões, mesmo tendo a pouco mais de 100 km o irresistível Carnaval de Olinda-Recife. Talvez tenha que me corrigir, falando o seguinte: não precisamos nem será pretensão concorrer com esses gigantes do carnaval brasileiro, estamos conseguindo provar que é possível conviver com eles, fazendo renascer o carnaval de rua de João Pessoa, algo como observa Buda Lira em texto publicado nas redes sociais (veja aqui).

Haveria uma ‘máfia do som’?

O ‘E tome ladeira’ também sofreu com a qualidade de som no palco. Fraco e sem capacidade de dar resposta às demais das atrações que se apresentariam, o equipamento foi novamente a pedra no sapato – do mesmo jeito que ocorrer um dia antes nas ‘Raparigas’.

A empresa que ganhou a licitação da Funjope para fornecer o som ao bloco teve que terceirizar a tarefa, porque precisava atender outra demanda e não dispunha de estrutura suficiente. O resultado é que o som disponibilizado não atendia à exigência técnica do que seria apresentado no palco. Os artistas mais uma vez tiveram que se virar.

(José Carlos dos Anjos Wallach e Ubiracira Lira)