Em festival, a força teatral de Mangabeira

Em festival, a força teatral de Mangabeira

Teatro - 12, novembro, 2019

 

Mangabeira, um dos principais bairros de João Pessoa, não possui teatros. Mas isso não quer dizer que não há teatro. Há sete anos, a Cia. de Teatro Soluar desafia essa lógica ao instituir o Festival de Teatro de Mangabeira. Após dois anos sendo realizado no Centro da cidade, no Teatro Lima Penante, ele retorna à Zona Sul.

As apresentações públicas começam apenas nesta quinta-feira (14), no entanto, desde a segunda, a organização realiza oficinas em escolas e associações comunitárias do bairro. Companhias paraibanas como Quem Tem Boca É Pra Gritar, Arretado Produções Artísticas e Cara Dupla Coletivo de Teatro são algumas das que oferecerão aulas durante o evento, além de apresentarem espetáculos.

O festival sempre foi realizado de maneira independente, sem aporte financeiro de editais ou financiamento, seja público ou privado. Por conta disso — e também por Mangabeira não ter nenhum equipamento de teatro —, o grupo passou a ter dificuldades em realizá-lo no próprio bairro.

“Levamos há dois anos para o Lima Penante porque queríamos continuar a fazê-lo. Inclusive, buscamos parcerias para levar alunos de Mangabeira para assistir a sessões lá, mas nosso desejo era produzi-lo e apresentá-lo à população aqui mesmo”, comenta Miguel Reberth, um dos coordenadores do festival.

A solução para trazê-lo de volta para Mangabeira foi estabelecer um critério no edital, privilegiando espetáculos de rua. “Somos um grupo com essa característica, mas, curiosamente, quando passamos a fazer o festival, praticamente todas as propostas inscritas tinham espetáculos montados para o formato de palco italiano, profissional. Este ano, instituímos que os selecionados deveriam fazer espetáculos pensados para a rua”, explica.

Na praça

As apresentações acontecem na Praça do Coqueiral, um dos principais pontos de cultura do bairro. “Queríamos poder levar essa programação para outras praças e espaços aqui de Mangabeira, mas tudo depende de autorizações da prefeitura. Só conseguimos autorização para o Coqueiral, mas estamos felizes por conseguir trazer o festival de volta para cá depois desses anos”, comenta Reberth.

A parceria com o Lima Penante não acabou. “O Núcleo de Teatro Universitário nos dá apoio e suporte para o festival acontecer”, completa.

O início

O festival teve início no ano de 2013, ainda como Festival de Teatro e Dança de Mangabeira, sendo sediado no bairro que deu origem ao grupo organizador do evento, a Cia de Teatro Soluar, ativa há 13 anos. A companhia, que desenvolve um trabalho de teatro voltado para a conscientização, formação e humanização do público, atualmente é formada por Aluísio Souza, Estéfane Dantas, Miguel Reberth e Jamil Richene.

Este ano, há apresentações de quatro grupos da Paraíba, dois do Rio Grande do Norte, um grupo de Pernambuco e um grupo de São Paulo. Todos os espetáculos passaram por um processo de seleção em edital, e recebem uma ajuda de custo que tem como patrocínio viabilizado pela Prefeitura de João Pessoa, através da Funjope.

A verba foi conquistada pelo festival através da Emenda Impositiva, apresentada pelo vereador Tibério Limeira. “Trata-se de uma verba parlamentar, da Câmara de Vereadores, que pode ser destinada a atividades artísticas. Passamos por todo o processo burocrático, bastante criterioso, até conseguirmos esse dinheiro. É a primeira vez em sete anos de festival que contamos com o apoio financeiro do poder público”, reforça o coordenador do evento.

Um dos sonhos que a Cia. Soluar tem é de solidificar a cultura teatral em Mangabeira.”Nosso objetivo é formar plateia. A gente não acredita nessa história de que as pessoas não gostam de teatro. O que falta, muitas vezes, é oportunidade para vê-lo. A gente não quer que o público assista por assistir, a programação tem como objetivo fazer com que o público reflita e tenha outra visão a respeito do teatro”, enfatiza Miguel Reberth.

Para isso, a companhia tem um sonho ambicioso. “A gente quer que Mangabeira venha a ter um teatro, um espaço dedicado e devidamente equipado para receber espetáculos teatrais”, completa.

 

(Texto de André Luiz Maia, publicado na edição do domingo, 10, do Jornal Correio da Paraíba)