Fiákra apresentou Antônio Barros e Cecéu à cena pop

Fiákra apresentou Antônio Barros e Cecéu à cena pop

Música - 27, maio, 2018

 

Fiákra e seu balé no clipe da música ‘Desabapho’

Quando Cecéu escreveu e a rainha Marinês gravou ‘Desabafo’ (1982) passaram mensagem clara contra rejeição e o preconceito e pela liberdade. Foram versos como “Eu quero a minha vida/Como ela é” e “Ser um ser humano/Sem tabu, sem preconceito/Ser errado, ser direito/Acreditar e não ter fé” que atraíram, quase três décadas depois, o jovem Filipe Fiákra.

Cantor e compositor da cena pop-eletrônica de Brasília, Filipe se sentiu à vontade pela segunda vez com uma obra paraibana – a primeira foi ‘Homem com H’, que é assinada por Antônio Barros, companheiro de Cecéu. Então consultou a autora e pediu permissão para gravar a música, utilizando uma estética visual e sonora que tem se popularizado na capital federal e conquistado seguidores no YouTube.

“Não costumo fazer pesquisa. Conheci a obra de Antônio Barros e Cecéu através de Ney Matogrosso. Gosto do andrógino, mas curto todos os estilos musicais. Casou com minha proposta e eu gravei ‘Homem com H’”, conta. “Se me permitirem, gravarei outras, com certeza”.

Filipe, de 28 anos, escreve e compõe, ou regrava obras de outros artistas que de alguma maneira têm link com a luta pela diversidade. A escolha por esse caminho vem da sua própria experiência: “Gosto de falar sobre as pessoas serem o que elas são. Daí a identificação com a letra de Desabafo”, justifica.

Fiákra, como o artista assina, iniciou carreira em 2014 e desde então optou por construir uma obra engajada com o movimento LGBT. “Toco em boates e eventos particulares e gosto de fazer clipes, por isso faço tudo mais lentamente”, revela.

Roupagem

Tanto em ‘Homem com H’ como em ‘Desabafo’, Fiákra imprimiu sua estética, nos arranjos e na produção de um trabalho visual com muito movimento e, sobretudo, muita linguagem corporal. Fácil, porque ele também é dançarino.

Ao lado das atividades como compositor, arranjador e cantor, ele é membro da companhia de dança Have Dreams, com a qual já representou o Brasil em evento no Estados Unides e voltará a fazê-lo em julho.

Texto também foi publicado na versão impressa do Jornal Correio da Paraíba, ao qual o blog Festar Muito é lincado

Fiákra tem carreira jovem, mas com domínio quase que total sobre o que produz: “Arranjos vocais e mixagem são todos meus. Nos casos dos clipes, tenho parcerias. Não tenho contrato com gravadoras e faço meu trabalho de forma independente com a ajuda de agências de produção e divulgação”.

Como muitos, ele seguiu uma receita simples, com a qual já convivia: “Desde criança cantava e isso facilitou”, confirma.

Repercussão

Com público em formação e bem prestigiado na cena brasiliense, Fiákra diz estar satisfeito com o resultado do seu trabalho. Suas músicas tocam em boates LGBTs e eventos particulares, além de ter boa exposição no canal que mantém no YouTube.

Lá, sua versão de ‘Desabapho’ (escrita assim mesmo com ph) tem quase 83 mil visualizações em quatro meses de exposição. ‘Homem com H’, postada em fevereiro do ano passado, já chega a quase meio milhão de visualizações.

“A repercussão foi muito boa. Muitos não conheciam e me diziam: ‘Excelente, muita boa a sua música’. Aí explicava que não era minha, que era de Antônio e Cecéu, que são artistas do Nordeste famosos em sua cultura, e que eu apenas havia regravado no meu estilo”.

Capa do disco de Marinês, de 1982, em que a música ‘Desabafo’, de Cecéu, é faixa-título

Mais leveza

Em ‘Nem vem’ (clipe gravado em Las Vegas e postado em fevereiro deste ano), ‘Pode Falar’ (de outubro de 2014) e ‘Paranóia’ (fevereiro/2017) o artista mantém a pegada da letra engajada.

Mas a marca que define a primeira fase da carreira deve ficar menos nítida nos próximos meses, quando começa outra safra de sua criações: “Agora fechei a agenda. É uma parada para um novo trabalho no qual vou buscar mais leveza nas mensagens. Quero fazer música para a diversão. Será uma proposta mais relaxada”, explica.

 

 

Desabafo (Cecéu)

Eu quero a minha vida

Como ela é

Como o povo sabe

Com o chão no pé

Como a água doce

Pra matar a sede

Me deitar na rede

Tomar o café

 

Ser um ser humano

Sem tabu, sem preconceito

Ser errado, ser direito

Acreditar e não ter fé

 

Cada um sabe o sapato onde aperta

A minha porta é aberta

Qualquer um pode entrar

 

Não ligo, faço, aconteço

No outro dia eu esqueço

Pra de novo começar

A minha vida sem chorar

E quem quiser pode falar

Falar, falar, falar, falar, falar, falar

Que eu não vou mudar

 

A versão com Marinês:

 

 

 

(José Carlos dos Anjos Wallach)