Durante quatro anos, a sergipana Sandyalê garimpou no próprio coração a poesia e as cores de ‘Árvore Estranha’, seu segundo álbum. O disco resulta de um compilado de registros poéticos desse período numa narrativa sobre movimento, mudança, mulher, relações e conflitos internos.
Cantora e compositora, Sandyalê conceitua mais detalhadamente a sua obra: “O ‘Árvore Estranha’ é um álbum muito pessoal, fala muito sobre mim, minhas relações afetivas e sociais, sobre como me sinto em meio as pessoas, tanto no meu lugar quanto fora dele. É uma metáfora, uma analogia entre as árvores que nascem no solo árido, no sertão, e as que nascem no solo fértil, na capital. Da dificuldade enfrentada por cada uma para germinar, brotar, crescer, florescer e dar seus frutos. O processo é parecido como o de gravar e lançar um álbum. Trouxe para mim como artista, tendo que me deslocar do sertão para os grandes centros como São Paulo, para poder trabalhar e mostrar minha arte, em um solo ‘fértil’. É uma gestação, de parto normal, demorado e doloroso, dando a importância devida a cada processo. É saber esperar. Espere”, finaliza.
Algumas faixas são parceria com Dudu Prudente, e há também composições de Lauckson (Lau e Eu), Elvis Boamorte, Fabrício Mota e Ana Carla Portela. Julico (The Baggios) participa de ‘Pêia’.
“As composições são retratos auditivos de cada momento vivido por ela e por mim também, pois esse álbum veio em um processo de transição em nossas vidas, em que transformamos a relação de companheiro e companheira para sermos bons parceiros musicais e da vida”, conta o produtor Dudu Prudente. “Traduzir tudo isso em sons, timbres e dar uma narrativa um tanto compreensível foi o que tentei fazer no estúdio. As gravações também são recortes desses momentos. Tédio, incertezas, vontades, esperança e a falta dela, instabilidade física e emocional são expressos em sons secos de bateria, repetições de riffs e das máquinas de ritmo, sintetizadores, echos, instrumentos novos e velhos”, detalha.
‘Árvore Estranha’ está disponível nas plataformas digitais a partir desta sexta-feira (4) e em formato físico a partir de 1º de novembro.
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FAIXA A FAIXA
(Sandyalê e Dudu Prudente)
”TUDO BEM?” é uma ironia, uma mulher impondo suas regras, querendo fazer coisas que agora ela já faz, independente se para você isso não esteja tudo bem. Ela manda você sair do corpo e cair pra dentro. Fala de força, que era desconhecida, mas agora já é habitada. Do que falta da parte de lá e da parte de cá. Pra finalizar da melhor forma, temos um coro de mulheres belíssimas cantando todas juntas que enriqueceu bastante a peitada, a imposição, que é Jeca, Tori, Bruna Ribeiro, Luna Safira, Ana Paula Salmeron e Mayara.
(Sandyalê)
”Bruta” fala da relação do prazer com o orgasmo e a não percepção do outro com a parceira. Mas também fala de superação, que nós podemos nos divertir sozinhas. Conhecer o corpo e se conhecer e, assim, se satisfazer sempre que necessário.
(Sandyalê e Dudu Prudente)
”Linhas que trago” foi uma das últimas canções escritas, com a participação de Dudu Prudente na melodia e interpretação. É uma desilusão, um tormento. Mas também é o libertar, como as linhas que se cruzam e se soltam. É não saber chegar, não saber partir e só saber querer. Mesmo assim, por brechas eu pulo. Uma das minhas preferidas do disco.
(Sandyalê, Allen Alencar e Lauckson)
“Cisma” basicamente diz que você não tem que aturar nada e nem ninguém, também fala de como sou cismada e reconheço meus erros. É muito pessoal, assim como todas que escrevo, mas essa é bastante íntima. Não me leve a mal, eu sou estranha mesmo. A segunda parte, que é meio falada, foi uma música que Allen Alencar, que também gravou no disco, tinha feito pra mim. Então criei alguns versos a mais junto com Lauckson e virou “Abrasada”. Acabou não entrando no álbum e, como eu gostava muito dos versos, adaptei e juntamos com “Cisma”, virando uma só música, palavra, melodia, espécie.
(Sandyalê)
“Cometa” foi escrita em São Paulo, quando estava longe e queria estar perto. Fala muito de mim. Dos meus momentos, meu “eus”, minhas histórias reais e imaginárias. Aqui ou em outro planeta. Sobre desprender-se e servir-se com as próprias mãos. Ser ar. Correr depressa e sem pressa ao mesmo tempo. é você saber voar.
(Fabrício Mota e Ana Carla Portela)
“Vão” é uma música de Fabrício Mota e Ana Carla Portela, ambos da Bahia. Fabrício me mostrou ela no violão, em 2016, e eu chorei do início ao fim. Acabou a música e eu continuei chorando. Foi uma honra gravá-la. Ele é um mestre, dos melhores baixistas que já tocou comigo. Fez essa música para avó dele, quando perdeu o avô. Acho que ela em si já conta uma bela história. Sentir falta. O amor, quando é real, é muito lindo.
(Sandyalê, Dudu Prudente)
“Ôio” foi a primeira música escrita desse álbum, em 2016, quando fui à Olinda, em Recife. Por isso ela começa com “Na ladeira, correnteza vai levar…”. Fala sobre pessoas que conseguem se comunicar com o olhar. Que até a coisa mais verdadeira, como um diamante, pode ser falso. Um dia, amante também mente. No porão, que é onde guardamos as lembranças, já não tem mais nada. Sem rumo, mas de pé no chão, seja ele batido ou pisado, a vida dança com você. As ideias precisam do vento para poder se espalhar. Tem um belíssimo arranjo de metais que Ricardo Vieira escreveu. Dudu também é meu parceiro na composição.
(Elvis Boamorte)
“Pêia” é uma música de Elvis Boamorte, cantor, compositor e músico também de Aracaju. Significa tomar uma pêia, um tapa, um sacode. A pêia que é viver na capital. Ele fez no sentido do significado do disco também. É tudo muito subjetivo, as palavras e o corre diário, observando as pessoas e a cidade. Tem participação de Julico, da banda The Baggios, nos vocais e na guitarra
(Lauckson)
“Árvore Estranha” foi composta por Lauckson, vulgo Lau e eu, que também é de Aracaju, mas reside em São Paulo atualmente. Quando o conheci, contei o conceito do disco e pedi para que fizesse uma música, pois ele escreve muito bem. Uma semana depois, ele me enviou esta bela canção que traduz tudo e mais um pouco do que é ser lá, sem ser de lá e nem daqui. “Árvore Estranha” não floresce dentro das capitais, é você ter que se deslocar do seu habitat natural pra viver seu sonho em outro lugar. Outro lugar esse que você também não se encaixa. É você com você mesmo. Um carcará voando torto.
FICHA TÉCNICA
Gravado por Dudu Prudente no estúdio Orí (Aracaju-SE) e por Zé Ruivo no estúdio Sararé (São Paulo-SP). Mixado por Dudu Prudente, exceto as faixas “Pêia” e “Árvore Estranha”, mixadas por Leo Airplane. Produzido e Masterizado por Dudu Prudente. A base do som foi concebida pelo trio Dudu Prudente (bateria, programações), Allen Alencar (guitarra, baixo e sintetizadores) e Zé Ruivo (sintetizadores, piano elétrico e acústico), com colaborações de Léo Monstro (sintetizadores), Léo Airplane (sintetizador), Big John (beats e Synth), Julico (guitarra) e Sebastién Willemyns (philicorda).
Fotografia – Catarina Ribeiro
Beauty Artist – Vini Kilesse
Figurinista – Sol Azulay
Projeto gráfico – Cibele Nogueira
Ilustração do CD – Felipe Ferrera
Produção executiva – Sandy Alexandre
Gravado entre 2017 e 2019
(Da Redação, com informações da assessoria da artista)