O forró é a junção de sanfona, triângulo e zabumba? Seria a festa que a gente promove e chama os amigos? Ou é aquela dança agarradinha em que as pernas ora dão passos largos, ora evoluem no miudinho? O termo, muito forte sobretudo no Nordeste, é mais lembrado realmente quando se quer referir à dança e música, entretanto o seu alcance cultural é imenso.
É essa dimensão que será buscada nas discussões que começam nesta segunda-feira (20) em João Pessoa, que sedia até a quarta-feira o 2º Fórum Nacional de Forró de Raiz. O evento vai reunir artistas, políticos e ativistas culturais.
Mesas-redondas, palestras e rodas de conversa vão debater desde as questões puramente artísticas e culturais (como o forró e seus ritmos, a influência e a reprodução do cotidiano nordestino nessa criação artística e espaços do forró) até aspectos que dizem respeito à gestão de recursos públicos e controle de gastos no tocante aos eventos bancados pelo erário.
Também se discutirá como o forró pode dar sua contribuição didática em sala de aula e como dela pode se reenergizar, principalmente na memória dos jovens.
Por sustentabilidade
Coordenadora do Fórum, Joana Alves da Silva tem grande expectativa sobre o potencial dos debates e seus efeitos práticos: “Espero que daqui tiremos as linhas gerais de uma lei que garanta de alguma maneira a sustentabilidade ao forró”.
Essa expectativa tem razão de ser porque, antecedendo o Fórum, também será realizada audiência pública da Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR) do Senado Federal sobre políticas públicas para a salvaguarda do forró.
O reconhecimento e declaração do forró como patrimônio cultural imaterial tem que ser dado pelo Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico (Iphan).
A realização da audiência pública foi definida no mês passado com aprovação de requerimento da senadora Fátima Bezerra. A reunião começa às 9h, na Sala de Concertos Maestro José Siqueira, no Espaço Cultural, e deve trazer a João Pessoa os senadores integrantes da CDR, além de representantes de órgãos nacionais ligados à cultura. O governador Ricardo Coutinho e representantes de universidades também estarão, assim como artistas do forró escolhidos pela categoria para tomar parte nos debates.
Defensora da bandeira levantada pelos forrozeiros, a senadora Fátima Bezerra lembra que o frevo pernambucano já foi tombado pela Unesco como patrimônio imaterial da humanidade, e que, do mesmo modo, o forró “tem bons antecedentes para ser eternizado”.
O secretário de Cultura da Paraíba, Lau Siqueira, avalia que é importante preservar as matrizes do forró “para que a gente não se distancie da identidade cultural nordestina”.
Reunião de forrozeiros
Pelo menos 70 artistas desse ritmo passarão por João Pessoa nos três dias do evento, já que o Fórum é realizado em paralelo ao Encontro Nacional de Forrozeiros. Nomes como Antonio Barros, Cecéu, Maira Barros, Pinto do Acordeon, Dejinha de Monteiro, Targino Gondim, Santana e Genival Lacerda estarão envolvidos nas discussões e também farão shows.
O Fórum e o Encontro de Forrozeiros serão abertos às 20h, amanhã, no Centro de Ciências Humanas Letras e Artes da UFPB. Estarão presentes artistas representando os Estados de Pernambuco, Alagoas, Piauí, Sergipe, Bahia, Rio e Paraíba.
Mapa do forró
“Queremos elaborar a Carta do Forró”, explica a coordenadora Joana Alves. Esse documento, baseado nos parâmetros alcançados na primeira versão redigida em 2015, vai apontar os caminhos para o extenso trabalho de campo, em que o forró será totalmente mapeado.
“Vamos identificar o artista, seu local de trabalho e o seu produto; vamos identificar os locais onde o forró está tradicionalmente presente. O objetivo é reunir informações detalhadas sobre essa rede artístico-cultural e entendê-la como cadeia produtiva. Assim é que vamos saber por onde caminhar até alcançar a sustentabilidade”, argumenta Joana. Ela calcula que esse trabalho dura pelo menos dois anos.
A programação
Segunda-feira – 20
9h – Sala de Concerto Maestro José Siqueira – Espaço Cultural
Audiência Pública do Senado: ‘Em defesa do forró – políticas públicas para a salvaguarda’
20h – Abertura oficial do 1º Encontro Nacional de Forrozeiros – Hino Nacional solado pelos sanfoneiros Edgley Miguel, Moisés Lima, Damião Moreno e Geo Moura
Terça-feira – 21
Auditórios do CCHLA-UFPB
9h – Abertura: apresentação da Carta de Diretrizes e propostas de trabalho
10h30 – Mesas-redondas: ‘Controle e acompanhamento dos aspectos formais nas contratações dos artistas’ | ‘Forró e seus ritmos tradicionais’
14h – Mesa-redonda: ‘O forró na mídia’
14h – Rodas de conversa: ‘Aspectos conceituais do forró’ | ‘Territórios e comunidades’
16h – Palestras: ‘Produção musical independente’ | ‘Forró e tango: diferenças e semelhanças ou duas danças de abraço’ | ‘Sanfonas e sanfoneiros e da zabumba ao pancadão’
Praça do Povo do Espaço Cultural
19h – Shows
1º bloco
Orquestra Sanfônica Balaio Nordeste, Geo Moura, Biliu de Campina, Sivuquinha, Antonio Barros e Cecéu, Pinto do Acordeon, Moisé Lima, Silvério Pessoa, Cesinha Sanfoneiro
2º bloco
Geraldo Cardoso, Climério Pessoa, Genaro do Acordeon, Rogério Rangel, Genival Lacerda, João Lacerda, Truvinca & João Calixto, Jurandir da Feira, Jurandir da Feira, Assisão, Targino Gondim, Liv Morais e Edilsa Ayres, Cristina Amaral, Gitana Pimentel e Nando Cordel
Quarta-feira – 22
Auditórios do CCHLA – UFPB
Rodas de conversa: ‘Sustentabilidade e políticas públicas para o forró – parte 1’ (8h) / ‘Sustentabilidade e políticas públicas para o forró – parte 2’ (10h30)
Mesas-redonda: ‘A internacionalização do forró’ (8h) / ‘O forró como conteúdo pedagógico’ (10h30)
Palestras: ‘O Museu dos 3 Pandeiros e a construção de memórias’ (8h) / ‘Forró como linguagem cultural do povo nordestino’ (10h30)
14h – Plenária de encerramento (auditório 1)
19h – Shows na Praça do Povo – Espaço Cultural
Dejinha de Monteiro, Claudinho, Antonia Amorosa, Salatiel de Camarão & Verônica Sedres, Andre Macambira, Jaiminho de Exu, Flávio e Cícera Leandro, Joquinha Gonzaga e Donizete Batista, João Paulo Júnior, Marcos Farias e Sabrina Vaz, Luiz Gonzaga da Rocha, Roberto Cruz, Andressa Formiga, Terezinha do Acordeon, Francisco Elmo de Oliveira, Josildo As, Ademario Coelho, Cesinha do Acordeon, Alcimar Monteiro, Chambinho do Acordeon e Genival Lacerda.
(José Carlos dos Anjos Wallach)