Uma leitora do Danadices.com enviou um conto em homenagem ao Dia do Beijo. Como o blog está em manutenção, o Festar Muito publica em primeira mão. Boa leitura e Feliz Dia do Beijo, festando e beijando muito!
O BEIJO
– O quê?
– Eu quero um beijo de amor, repetiu.
– Como assim?
– Como no filme Matrix.
– Não assisti.
Enquanto olhava o sujeito de cima a baixo, tentando se lembrar do motivo que a fez sair com ele pela terceira vez, e pensando se valia ou não a pena contar a cena do beijo, ele interrompeu.
– Diz aí, qual é o lance do filme?
Continuou observando ele tirar a camisa e se deitar. Sorriu, lembrando do motivo… Começou a descrever a cena. Afinal, se demonstrou interesse, havia uma chance de ela conseguir o mesmo que…
– Perséfone, a personagem interpretada por Monica Bellucci…
– Ah! Sei quem é, disse ele com um olhar que completava mentalmente: “aquela gostosa…”
Mas claro, pensou, o sujeito não assistiu Matrix, mas sabe exatamente quem é Monica Bellucci! Ponderou se valia a pena insistir na história, se não era melhor deixar pra lá esse negócio do beijo e partir para o desfrute de um corpo que, a essa altura, estava contido apenas em uma cuequinha muito sexy. Afinal, de onde foi que ela tirou essa história de querer um beijo de amor? O que estava pretendendo?
Mas, apesar de parecerem pequenas as chances de ele entender e de ela conseguir o que estava querendo, continuou…Perséfone se encontra com Neo, Trinity e Morpheus, os três personagens principais do filme, num banheiro.
– Hummm… vai rolar uma sacanagem…
– Fica quieto! Se me interromper de novo não conto mais.
– Tá certo, continua.
Perséfone propõe uma troca. Ela daria uma informação que eles estavam querendo, se Neo a beijasse da mesma forma que beijava Trinity. Neo pergunta por que e ela diz que é porque os dois se amavam, existia amor entre eles e há muito tempo atrás ela tinha conhecido esse sentimento. Ela queria relembrar. Experimentar de novo.
Trinity, com ciúmes, saca a arma e diz, que tal experimentar isso. Morpheus a faz baixar a arma e Perséfone diz, “tanta emoção por algo tão pequeno, é apenas um beijo”. Neo pergunta por que deveriam confiar nela e ela diz que Trinity poderia matá-la se ela não os levasse até a pessoa que eles queriam encontrar. Então ele concorda e lhe dá um beijo. Mas ela não sente nada, diz que foi horrível e se vira para sair.
Então, Neo pede para ela esperar e se prepara para tentar novamente. Dessa vez, ele tira os óculos escuros e se aproxima dela de olhos fechados, concentrado no amor que sentia por Trinity. Aquele sentimento que ela queria relembrar. Enquanto descrevia a cena, descobriu que era exatamente isso que ela também estava querendo. Reviver a sensação de amar.
– E aí? Continua.
– Aí Neo beija Perséfone bem devagar e a energia do sentimento dele percorre o corpo dela por alguns longos segundos. Quando o beijo termina, Perséfone afasta a cabeça mordendo de leve seu lábio inferior, como se tivesse sentido um orgasmo e diz: “Sim, é isso!” Então, ela se volta para Trinity e diz que a inveja. Mas completa, num tom de maldição: só tem uma coisa… isso não foi feito para durar…
Terminou a descrição da cena relembrando quantas vezes tinha passado por aquela mesma experiência, sentido aquele mesmo sentimento através de um beijo. Será que era só isso que ela queria? Reviver a mesma sensação? Ou o que mais a perturbava era saber por que não durava? Porque o encantamento do amor não dura? Lembrou-se de “sonhos de uma noite de verão” e algo na sua cabeça lhe disse: não dura porque não é amor, é ilusão. Quando for amor, vai durar.
Virou-se. Abriu a porta.
Saiu. Leve. Bonita!
(Por Ana C.)
*Pseudônimo
