Mostra vai reunir 25 cocos, cirandas e mazurcas

Mostra vai reunir 25 cocos, cirandas e mazurcas

Eventos - 16, julho, 2021

Durante dois dias o YouTube vai estremecer com batuques e brincadeiras da cultura tradicional. A transmissão, no canal Cultura Paraibana, reunirá 25 mestres, mestras e grupos do sertão, cariri, brejo, agreste, litoral, quilombos e aldeias indígenas.
Será a Mostra de Cocos, Cirandas e Mazurcas N. Sra. Sant’anna, promovida e organizada pelo Grupo de Estudos Coco Acauã, nos dias 24 e 25/7.

(Grupo se apresente no 1º Encontro de Coco de Roda, em 2019, acima / Foto: Festar Imagem)

O evento comemora o Dia Estadual de Cocos, Cirandas e Mazurcas, criado em maio deste ano pela Lei 11.959/202. Também marca o encerramento das comemorações juninas, fechadas pelo Dia da Nossa Senhora de Nossa Senhora Sant’anna.

As apresentações serão transmitidas ao vivo a partir das 14h. Os organizadores explicam que a mostra também servirá para arrecadar recursos para ajudar as comunidades tradicionais. Essas colaborações podem ser feitas por PIX, no código mostrasantanna@gmail.com.

Grupos participantes

  • O Coco de Roda Potiguara Flor de Laranjeira é um grupo formado por indígenas potiguaras da aldeia laranjeira – Baía da Traição, litoral norte paraibano. Os cocos de roda e cirandas indígenas da PB tem características únicas no toque, dança e na forma de cantar.
  • O Coco de Roda da Barra do Camaratuba nasceu com a vontade de resgatar a cultura do coco e ciranda que estavam adormecidos na barra. Mestra Senhorinha que desde criança é apaixonada por essas brincadeiras resolveu criar o grupo junto com o seu marido, Mestre Raminho, para não deixar que a cultura tradicional do lugar caísse no esquecimento. O grupo tem forte influência dos indígenas potiguaras. Mestre Raminho, Mestra Rita e Mestre Zezé são zabumbeiros do grupo e nasceram em aldeias potiguaras. Seu Ivo e Dona Nãná são dançadeiros do grupo e também são indígenas. Uma característica muito interessante é que não se dança em pares, apenas uma pessoa vai para o meio da roda.
  • A tradição do coco de roda na Barra de Mamanguape passou muitos anos adormecida, mas com o apoio de Miguel e Leandro (dois artistas que foram morar na localidade paradisíaca) Mestre Burica, Mestre Eufrásio, Dona Antônia, Rosa e etc conseguiram se organizar e formar o grupo “Barra do Coco” que busca valorizar as raízes culturais tradicionais do lugar.
  • O grupo Coco de Roda Atalaia do Forte vem da região de Forte Velho/ Ribeira e carrega a tradição do grande Mestre Jorge (em memória) tendo na sua composição experientes tiradores de coco, dançadores e zabumbeiros.
  • Maria da Penha Anjos do Nascimento, popularmente conhecida como Penha Cirandeira, aprendeu brincar Coco de Roda e Ciranda com seu pai, José Francisco, que se orgulhava do rebumbar da zabumba que sua filha apresentava nas brincadeiras, no município de Várzea Nova/Santa Rita – PB, onde a mestra teve a oportunidade de conviver, por anos, com o mestre Ciço.  Em 2009, Penha gravou o CD “Ciranda Raio de Sol”, pelo selo “Raízes da Alma”. Após algum tempo sem notícias da mestra, lançou-se uma campanha para encontrá-la. Enfim Penha foi localizada cheia de energia pra brincar e desde que a mestra foi encontrada, formou-se uma rede de apoio à ela e, uma das ações que está sendo mobilizada, é a campanha para sua aprovação na lei Rema/Canhoto da Paraíba que busca reconhecer Penha Cirandeira como patrimônio vivo da cultura paraibana.
  • A Ciranda do Sol foi fundada em 1968 pelo Mestre João Grande que deixou de herança ao Mestre Mané Baixinho que ao longo do tempo foi repassando seus conhecimentos para a Mestra Tina e após o falecimento dele em 2019, ela assumiu a grande responsabilidade de levar um legado de 53 anos à frente. A Ciranda do Sol é tradição viva e há gerações marca a história e a cultura de João Pessoa e da Paraíba.
  • A mazurca, brincadeira surgida no século XIX, é mantida pelo grupo de cantadores do Assentamento Santa Catarina, localizado na cidade de Monteiro, no cariri paraibano. Comandada por muitos anos pelo mestre Zé Preto (em memória), atualmente a brincadeira é levada pelos mestres Biu, (90 anos), João de Amélia (81 anos), Dudé (71 anos) e pelo brincante Carlinhos, que recebeu das mãos do mestre Zé Preto a missão de persistir lutando pela continuidade da tradição!
  • O coco de mazurca do Congo teve origem no século XIX com os bisavós da Mestra Emídia que migraram de Santa Maria do Cambucá (PE) para a cidade do Congo (PB). Ela conta que o coco era muito usado para “romper aleluia” na sexta-feira santa. Os pais da Mestra ficavam nas casas ou na estrada contando “histórias de trancoso” que são contos de tradição oral que passam de geração em geração. As pessoas esperavam o amanhecer para “romper aleluia” dançando muito coco de mazurca. Eles não usam instrumentos, apenas a palma da mão e os trupés. Alguns ritmos são: cavalo e maré de caranguejos. Segundo a Mestra Emídia o Coco de Mazurca do Congo é de origem indígena.
  • O Coco de Roda Quitéria Noberto tem mais de 130 anos de existência na cidade de Monteiro (Cariri paraibano). O Mestre Ivan que atualmente conduz o grupo é neto de dona Quitéria e herdou essa tradição da sua avó.
  • Benedito do Rojão nasceu no Sítio Juá, Distrito de Boa Vista, no Cariri paraibano, pertencente à cidade de Campina Grande. É cantador de coco, rojão, xote e também repentista. Seu pai e avós eram cantadores de coco de roda. Uma história bem parecida com a de sua maior referência que é Jackson do Pandeiro (sua mãe era cantadora de coco de roda em Alagoa Grande). Benedito conheceu Jackson em CG e foi influenciado pelo estilo do rei do ritmo de cantar, tocar e se vestir. Benedito do Rojão também criou um estilo único e muito elegante de tocar coco no pandeiro na ponta dos dedos. Além de tudo isso, segundo ele, quando era criança assistiu a uma peleja do lendário Zé Limeira cantando em Campina Grande, essa história ele conta em riquíssimos detalhes.
  • As Ceguinhas de Campina Grande eram um trio, mas atualmente são uma dupla formada por Poroca e Indaiá. Infelizmente no dia 25/03/2017, por decorrência de um AVC e da diabetes, Maroca faleceu, aos 72 anos de idade. Elas nasceram cegas, em uma família de agricultores sem-terra, trabalharam na lavoura desde pequenas, quando o pai, alcoólatra, as alugava como mão de obra temporária nas propriedades da região. Após a morte do pai, começaram a cantar cocos e a tocar ganzá nas ruas, feiras e portas de igrejas, em troca de doações que sustentavam 14 parentes.
    No filme, “A pessoa é para o que nasce”, as irmãs cantam, tocam e falam de sua vida e suas memórias. O sucesso do curta metragem, eleito o melhor da categoria “É Tudo Verdade” (1999) levou a um convite para participar do festival de percussão Percpan (2000), em Salvador. O grupo recebeu elogios de Naná Vasconcelos e Otto, além de ser homenageado numa composição de Gilberto Gil. Junto à produção cinematográfica foi lançado um CD duplo com o mesmo título, onde se podem ouvir participações de diversos artistas renomados da música brasileira, como a de Hermeto Pascoal. Em 2004, Berliner lançou a versão em longa-metragem do seu documentário. No mesmo ano as três irmãs receberam a Ordem do Mérito Cultural. O filme protagonizado com as três irmãs acumula diversas premiações. Em 2015, o trio recebeu pela segunda vez, mais um reconhecimento, a Ordem do Mérito Cultural, que foi entregue pela Presidenta da República Dilma Rousseff. As artistas participaram da novela “América”, levada ao ar pela TV Globo.
    Com o dinheiro arrecadado na época e com as apresentações em eventos culturais, as irmãs conseguiram comprar a casa própria em Campina Grande. Mas com o passar do tempo, elas passaram por alguns problemas, inclusive maus tratos por parte de um parente. E logo veio o esquecimento. As artistas perderam tudo que ganharam na carreira por má administração de quem cuidava dos seus bens, e passaram a viver de favor na casa de uma amiga.
  • O Samba de Coco do Mestre Zé Zuca tem origem secular no município de Queimadas – Agreste Paraibano. Zé Zuca veio de São Vicente Ferrér (PE) morar na zona rural de Queimadas (PB) em meados de 1920 e com ele trouxe diversas tradições culturais. Entre elas o samba de coco, coco de roda, coco de mergulho ou coco furado e a ciranda. O grupo hoje liderado pelo Mestre Geraldo Preto e com a coordenação de Adilson Tavares é formado por agricultores e tem características únicas e a mais notável, sem dúvidas, é o coco furado: uma mistura do tombo do magui do Cavalo Marinho da Zona da Mata da Paraíba e Pernambuco com o coco de roda; até o momento, é o único grupo conhecido que possui esta tradição. As brincadeiras além de serem dançadas nas novenas, também acontecia quando se queimava a caeira. Outra característica muito notável, é que são o único grupo tradicional na Paraíba que usam o termo “samba de coco” e que nomeiam suas brincadeiras de “samba”. Normalmente na Paraíba escutamos o termo “festa de coco”. É um grupo único!
  • O grupo Brilho do Coco liderado pela Mestra Edite (uma das mais experientes, reconhecidas e respeitadas mestras de coco de roda e ciranda da Paraíba) vem da terra de Jackson do Pandeiro e da heroína paraibana Margarida Maria Alves. É formado por quilombolas de Caiana dos Crioulos – Alagoa Grande, brejo paraibano.
  • No sítio caiana do agreste, localizado em Alagoa Grande – brejo paraibano, não existe um grupo oficialmente formado de coco de roda ou ciranda. Seu Arnaldo se junta com os amigos quando estão com vontade de brincar ou quando são convidados para tocarem em povoados vizinhos e fazem aquela brincadeira à moda antiga. Aqui na PB ainda é muito comum a ciranda e o coco de roda serem preservados comunitariamente sem a intenção de se tornar um grupo de apresentação ou artístico.

    Seu Arnaldo tomou gosto pela brincadeira através do seu pai (em memória) que deixou a zabumba de herança quando faleceu. No último dia do mês de maio, Seu Arnaldo sempre ia brincar ciranda na casa do sogro, o que foi despertando ainda mais o seu interesse. No dia 20 de janeiro, ele sempre chama os amigos e vai comemorar o dia de São Sebastião no distrito de Zumbi (Alagoa Grande) e, também, devido a serem comunidades vizinhas, ele nunca perde uma ciranda em Caiana dos Crioulos.
  • O grupo Desencosta da Parede liderado pela Mestra Cida também vem da terra de Jackson do Pandeiro e da heroína paraibana Margarida Maria Alves. É formado por quilombolas de Caiana dos Crioulos – Alagoa Grande, brejo paraibano.
    Cidades
  • A mostra conta com grupos das cidades de Pilar, Várzea Nova, Campina Grande, João Pessoa, Conde, Alagoa Grande, Forte Velho, Monteiro, Congo, Cajazeiras, Mataraca, Queimadas, Rio Tinto e Baía da Traição.

(José Carlos dos Anjos Wallach)