O sepultamento do cantor e compositor João Gomes da Cruz, 57, o conhecido radialista Jota Gomes, foi cercado por muita emotividade. Amigos e familiares lotaram o salão durante o velório, na mortuária A Viagem, e depois o cemitério do bairro do Cruzeiro, em Campina Grande.
“Perdemos um amigo e um talento de maneira brutal”, disse o também radialista Oscar Neto, dono do personagem Coroné Grilo, que foi fazer as últimas homenagens a Jota. “A gente perde um profissional que gostava da música de raiz”, comentou Oscar, destacando a importância estratégica de ter Jota Gomes no rádio, espaço que utilizava para apoiar a cultura regional e estimular artistas da terra a continuarem produzindo.
Jota Gomes lançou recentemente a música ‘Revolta da natureza’, uma letra que canta o sofrimento do nordestino com a seca, mas enaltece sua esperança e religiosidade. Além de criticar o próprio homem pelo desrespeito com o meio ambiente.
O radialista foi morto com dois tiros na madrugada do último domingo (31), quando seguia para fazer mais um programa de rádio na emissora Panorâmica FM. Até agora a polícia investiga a hipótese de latrocínio.
A dor do amigo
O crime aconteceu próximo à casa de Marcos Videl, amigo e companheiro de trabalho de Jota, com quem apresentava o programa de rádio: “É um momento tão difícil, foram dois anos de programa, antes no sábado das 18 às 19h, depois foi transferido há 3 meses para o domingo das 4 às 6h da manhã. Falar de Jota Gomes é falar de simplicidade, de amor, companheirismo, um cara família, irmão, super talentoso e de uma simplicidade tremenda. Nesses dois anos eu aprendi bastante com ele. No sábado estávamos à noite lá em casa. Ele super feliz, as coisas começando a darem certo e a gente via um momento de explosão na carreira do artista Jota Gomes. Eu estou aqui de coração partido, um pouco mais isolado, sem falar com ninguém com exceção de você e é um dia que vai ficar marcado na nossa história. Eu quero deixar um abraço fraterno para as pessoas que nos ouviam e nos pediam músicas e que ele carinhosamente atendia de coração”.
Qualidade musical
O cantor e compositor Geovane Jr, outro amigo, disse que Jota Gomes era dono de grande qualidade musical. “Era uma artista nato, com uma voz bem colocada. Um episódio desse é trágico”, lamentou.
Segundo Geovane, Jota Gome foi um dos primeiros a se integrarem no movimento SOS Forró, criado no final do ano passado para dar voz aos artistas que vivem dessa arte no Nordeste.
De fato, Jota esteve nas reuniões preparatórias e no fórum #SOS Forró, que reuniu artistas, pesquisadores e autoridades, durante um dia de discussões em Campina Grande.
Muitas baixas
Cantor e compositor, Pepysho Neto colocou Jota Gomes entre as muitas baixas registrada na cultura nordestina, em particular da Paraíba, durante o ano de 2017. “Eu sinto muito pelo cidadão que era Jota Gome e pela música nordestina. Ele era grande defensor da nossa música”, lamentou.
O vocalista do grupo Os 3 do Nordeste, Tinho Sóstenes, disse que recebeu a notícia da morte de Jota Gomes quando chegava de Parelhas (RN). “A gente vê que está refém da violência”, protestou o artista. Em relação a Jota, ele desfruta da mesma visão de outros amigos: “Ele era uma pessoa que estava empenhada em fortalecer o forró”.
“A cidade de Boqueirão está muito triste, Ele era uma pessoa muito querida naquela região”, testemunhou o poeta Zé Gomes, tio de Jota.
O produtor Ailton Medeiros disse que Jota Gomes, além de ser artista, era “uma figura determinada e, antes de tudo, tinha amor no coração”.
Também muito emocionado, o compositor Alfranque Amaral, protestou: “Muito difícil dizer qualquer coisa num momento desse. O país está falido, com muita violência e a educação em nível zero”.
Veja também:
Defensor da música regional, Jota Gomes é morto em Campina
http://festarmuito.com/defensor-da-musica-regional-jota-gomes-e-morto-em-campina/
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(Reportagem: Snides Caldas)