A organização do Festival Grito divulgou no início da noite desta segunda-feira (29) uma nota em que se diz “surpresa e triste” com a repercussão em torno da apresentação da banda carioca Maldita no palco principal do evento, na noite do sábado (27).
“Recebemos com surpresa e tristeza essa situação e, primeiramente, pedimos desculpas a todas as mulheres que se sentiram ofendidas com as atitudes do vocalista. É justamente contra esse tipo de conduta que lutamos”, diz o texto da nota, veiculada nas redes sociais.
O quarteto carioca, que produz rock industrial e gótico, era uma das atrações mais esperadas do palco principal. A decepção do público veio em um conjunto de fatores: a letra da música ‘Anatomia’ e o fato do vocalista ter exibido a genitália, segundo relatos posteriores ao show.
Segundo esses relatos, a letra da música é misógina e desrespeitosa para com as mulheres, e a atitude de Erich Eichner reforçou a mensagem negativa.
Em um dos comentários no Instagram da própria Maldita, um internauta criticou: “Uma vergonha essa banda ser a atração principal em um festival que prega o empoderamento feminino e ainda por cima a banda dedicar como homenagem às mulheres uma música que faz apologia ao feminicídio e necrofilia”.
Outro foi mais irônico: “Banda machista de merda. Vem pra Parahyba desrespeitar mulher. E ainda tivemos que ver o pau fino e pequeno do vocalista. Que tosco!”
A letra da música:
Eu me fechei na escuridão
Sangrento era o corpo em minhas mãos
Comprei a arma só pra te assustar
Minha intenção não era de te matar
Eu a arrastei até o cemitério
Seus olhos brancos eram cadavéricos
Me fechei na escuridão
Eu lavei o sangue seco nas minhas mãos
O que eu sinto é algo tão intenso
Eu precisava saber como ela era por dentro
O que eu sinto é algo tão intenso
Eu só queria saber como ela era por dentro
Sinto o remorso quer me sufocar
O cheiro de morte infestava o lugar
Comprei a arma só pra te assustar
Minha intenção não era de te matar
Eu a arrastei até o cemitério
Seus olhos brancos era cadavéricos
Mostrei a puta o que se cava enterra
Joguei ela no chão e abri suas pernas
O que eu sinto é algo tão intenso
Eu precisava saber como ela era por dentro
O que eu sinto é algo tão intenso
Eu só queria saber como ela era por dentro
Eu vou amar você pra sempre
Eu sei, eu sou doente
Eu vou amar você pra sempre
Não precisa me dizer que eu sou doente
Eu sempre achei você demais
O meu problema era com seus pais
Mostrei a puta o que se cava enterra
Joguei ela no chão e abri suas pernas
Sinto remorso quer me sufocar
O cheiro de morte infestava o lugar
Seu nome era necrofilia
Minha percepção de amor é doentia
Minha percepção é doentia
Pedido de desculpas
Após a repercussão negativa em relação à sua apresentação, a banda Maldita divulgou nas suas redes sociais um pedido de desculpa. De acordo com a banda, a música foi escrita em 2003, numa representação metafórica do autor aniquilando a sua alma feminina.
O autor acha que a música foi mal interpretada por alguns, e explica que a letra foi inspirada num momento de frustração emocional produzido por uma separação. Reafirma que se trata de uma metáfora sobre matar um amor. Segue a nota da banda:
“A todos de João Pessoa que estavam presentes no festival Grito João Pessoa 2019 – em decorrência de posts enviados a organização do festival, gostaríamos de esclarecer certos mal entendidos que podem ter ocorrido durante a apresentação da música Anatomia, durante o show nesse último sábado, dia 27. Desde já, pedimos imensas desculpas por aqueles que de algum modo podem ter se sentido ofendidos.
Anatomia – que foi mal interpretada por alguns – é uma composição que escrevi em 2003 e que fala sobre eu “matando” ou “aniquilando” a minha alma feminina, ou “Anima” dentro da corrente Jungiana. Ela também foi escrita diante de minha primeira separação e novamente é uma metáfora sobre matar um “amor” ou a consciência de que até as coisas mais belas morrem.
Dito isso, gostaria de dizer também que, o público da banda Maldita, é predominantemente feminino (justamente por causa dessa música) que é a nossa balada de amor e, é por isso que temos como hábito, a mais de quinze anos dedicá-la a todas as mulheres presentes quando estamos performando.
Deixo claro aqui que a Maldita não apoia e nunca apoiou qualquer tipo de repressão, sejam elas políticas, racistas, misóginas, homofóbicas ou qualquer forma de repressão.
Afinal de contas, não votei no Bolsonaro e faço questão de gritar isso em meus shows #EleNão!
Assim como também não incito qualquer tipo de violência nos mesmos.
Mais uma vez pedimos desculpas a toda organização do festival Grito Rock, assim como aqueles que de algum modo possam ter se sentido ofendidos.
Viva o Rock, os atos poéticos e a liberdade de expressão!
Atenciosamente,
Lúcifer”
Ao mesmo tempo que o público do Grito João Pessoa criticou a atitude do vocalista e a letra da música, alguns seguidores da banda foram ao Instagram e defenderam o grupo. Alguns evocaram a liberdade de expressão e argumentaram que a mensagem transmitida em ‘Anatomia’ está em forma de metáfora.
Escute ‘Anatomia’ aqui
(José Carlos dos Anjos Wallach)