Campina Grande tem esse poder de atrair para seus braços gente da melhor qualidade. Foi assim com Jackson do Pandeiro, com Marinês e vários outros filhos ilustres que vieram de outras cidades, mas escolheram a Borborema para fincar família e carreira.
Foi assim também com o mestre sanfoneiro Severino Medeiros, que faleceu na noite dessa quinta-feira (26), aos 74 anos, em sua casa no Alto Branco. Nascido em Esperança, Severino foi recebido ainda jovem pela Rainha da Borborema, onde fixou residência, fez a carreira e criou uma família de sanfoneiros.
O músico faleceu após lutar por pelo menos dois anos contra uma fibrose pulmonar que o debilitou ao ponto de não poder mais fazer o que mais gostava: tocar sanfona.
Na família Medeiros a música é uma herança passada de pai para filho. Quatro dos oito filhos tocam sanfona. Lá, aprender esse instrumento, símbolo do Nordeste, é quase como conhecer o bê-a-bá. Mas a arte de dedilhar a sanfona surge naturalmente. O dom de tocar é nato. Também é fácil dominar o triângulo e a zabumba. E assim, filhos, netos, sobrinhos, primos, vão formando trios e tocando forró pelo Brasil afora.
Quem foi
“Toco sanfona desde os 17 anos”, dizia Severino Medeiros, remanescente de uma geração de músicos que se destacou por valorizar a cultura nordestina e o acordeom.
Músico e arranjador de primeira, já trabalhou ou tocou com grandes nomes da música nordestina, ícones da cultura forrozeira, como Dominguinhos, Elba Ramalho, Antônio Barros e Cecéu, Marinês, Anastácia, Jackson do Pandeiro, Genival Lacerda, Biliu de Campina e tantos outros.
Severino deixou cerca de 70 músicas gravadas por vários cantores, entre eles, Amazan, Capilé e Luizinho Calixto.
“Aprendi na doida, sozinho mesmo!”, respondia Seu Severino. O músico também já integrou a Orquestra Sanfônica. Embora analfabeto, tacava de ouvido, dava aulas de música e também dominava violão, cavaquinho e pandeiro.
Homenagens
Em 16 de março deste ano, o mestre sanfoneiro recebeu o título de ‘cidadão campinense’, em sessão especial realizada pela Câmara Municipal. Foi a acolhida oficial da cidade onde Severino criou e espalhou forró por quatro décadas.
Um pouco de sua história também está guardada em vídeo no Museu dos Três Pandeiro, em Campina, que em novembro de 2016, levou artistas locais e público para uma edição do projeto ‘Sextas Musicais’ onde o tema foi a carreira do mestre sanfoneiro. Depoimentos, apresentações musicais e homenagens foram gravados e estão no arquivo eletrônico da Universidade Estadual da Paraíba, à qual o museu é ligado.
Também no ano passado, Severino Medeiros foi homenageado e teve suas obras tocadas no 1º Encontro Regional de Sanfoneiros, realizado no espaço cultural Pé de Serra no Quintal, em Campina Grande. Músicos veteranos e jovens, alguns ainda alunos de Severino, foram homenageá-lo.
Sepultamento
O corpo de Severino está sendo velado em sua casa, no bairro do Alto Branco. O enterro ocorrerá ainda nesta sexta-feira, no Cemitério Campo Santo Parque da Paz , às 16h.
(José Carlos dos Anjos Wallach)