O corpo do músico Carlos Albuquerque de Melo, o Parafuso, do trio regional Os Três do Nordeste, deverá ser cremado na Alemanha. A chegada da urna com as cinzas à Campina Grande, onde mora a família do artista, está prevista para daqui a duas semanas por causa dos trâmites burocráticos que envolvem casos desse tipo.
Parafuso sofreu um infarto por volta das 5h (1h de Brasília) dessa segunda-feira (3) na Cidade de Colônia, onde o grupo realizou um show no último sábado (1). Após duas paradas cardíacas e um AVC ele não resistiu.
Durante manhã e tarde da segunda, familiares e amigos chegaram à casa do artista. A viúva e produtora do grupo, Lisete, muito abalada, recebeu condolências e não teve condições de falar com a imprensa, que procurava informações sobre o ocorrido e fazia levantamento histórico da banda famosa em todo o país.
“Estou feliz”
Na noite do sábado, durante o show em Colônia, Parafuso passou o zabumba para o filho Luiz Carlos, lhe deu um forte abraço e disse: “Filho, eu estou muito feliz”. Ao final da apresentação, ele voltou-se mais uma vez para o filho e mostrou: “É desse jeitinho aí”, como se passasse a Luiz Carlos uma orientação, uma dica.
Luiz Carlos, que é baterista, acompanhou o pai e os demais integrantes do trio (o vocalista Deda e o sanfoneiro Hedran Barreto) na viagem à Europa.
Isso foi contato por telefone pelo próprio Luiz Carlos a Tiago, casado com Esdra Veras, sua irmã.
Opção da família
Segundo relatos de amigos, a família optou pela cremação por uma questão de custos. Trazer o corpo da Alemanha implica numa série de procedimentos burocráticos que dependem de vários países onde há escala no voo até a chegada ao Brasil. As despesas para isso também são altas e a família preferiu não depender da interferência de autoridades.
Mesmo assim, levará pelo menos mais duas semanas para que os restos cremados do artista cheguem à família para os rituais fúnebres. Aos 76 anos, Parafuso deixou esposa e sete filhos.
Homenagem e disco pronto
‘Os Três do Nordeste’ seria a atração e o homenageado da próxima edição do projeto ‘Sextas Musicais’, que a Universidade Estadual da Paraíba promove na última sexta-feira de cada mês no Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP), também chamado de ‘Museu dos Três Pandeiros, em Campina.
Nessa segunda-feira, o músico Sandrinho Dupan, produtor do projeto, disse que após o ocorrido não há ainda definição sobre a agenda: “Não é o momento de tratarmos isso. Guardaremos o luto da família”, disse pelo Whatsapp.
Pela agenda do projeto, o grupo Três do Nordeste seria homenageado com um cordel escrito pelo músico e compositor Roberto Moraes, um dos grandes amigos e parceiros artísticos de Parafuso.
“Uma coisa inesperada, triste. É muito forte”, disse por telefone Roberto, que ficou desde as primeiras horas da manhã dessa segunda-feira na casa da família de Parafuso. Foi ele que atendeu à imprensa.
Segundo Roberto Moraes, que coordena o espaço Pé de Serra no Quintal, Os Três do Nordeste acabaram de gravar um disco, que deveria ser lançado semanas atrás, mas cuja prensagem atrasou.
O trabalho, todo inédito, deverá ser lançado posteriormente, mas ainda não se tem detalhes a respeito disso. O fato é que a nova obra, devido às circunstâncias, já chega com grande valor histórico para a música nordestina.
(Snides Caldas e José Carlos dos Anjos Wallach)