Na Paraíba, forrozeiros de todo o país festejam conquista histórica

Na Paraíba, forrozeiros de todo o país festejam conquista histórica

Eventos - 12, dezembro, 2021

A Paraíba recebe durante esta semana forrozeiros, entidades culturais, pesquisadores e organismos culturais de todo o país, que participarão do 4º Encontro Nacional de Forrozeiros e do 3º Fórum de Forró de Raiz.

Organizados pela ONG Balaio Nordeste, esses eventos serão abertos nesta segunda-feira (13/12) e trazem consigo um momento histórico da cultura nordestina e nacional: o anúncio oficial e entrega do título de patrimônio cultural imaterial do Brasil ao Forró. O reconhecimento do ritmo e suas nuances como patrimônio foi declarado em votação unânime na 99ª reunião extraordinária do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Iphan realizada na quinta-feira (9).

A solenidade de abertura começará às 8h na Sala de Concertos do Espaço Cultural, em João Pessoa.

Na manhã deste domingo (12) foi realizada uma caminha com sanfoneiros entre a sede da ONG Balaio Nordeste e a Igreja de São Frei Pedro Gonçalves, no Centro Histórico. Em seguida, houve a tradicional missa dos forrozeiros (foto acima / reprodução a partir de vídeo do Balaio Nordeste).

Caravanas

Representações de Alagoas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Minas Gerais, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e São Paulo têm presença confirmada. Este será o primeiro evento presencial promovido pela Associação Cultural Balaio Nordeste desde o início da pandemia.

O evento também será transmitido ao vivo pelas TV Câmara de João Pessoa e TV Assembleia e pelo canal do Balaio Nordeste no You Tube.

Fórum e Encontro de Forrozeiros

Segundo a coordenadora do Balaio Nordeste, Joana Alves, haverá debates e programação cultural, com apresentação de forrozeiros de todo o país. Serão cinco dias de atividades – de 13 a 17 de dezembro – em salas do Espaço Cultural José Lins do Rego e da Usina Energisa.

Estão sendo esperados 110 artistas, entre eles Santanna, Flávio Leandro (PE), Biliu de Campina, Jadiel e Daniel Guerra (RJ), o dançarino Marinho Braz, Anastácia e mais dois trios paulistas, Antônia Amorosa.

Cada Estado terá 10 minutos de apresentação por noite, na Usina Energisa, nos dias 16 e 17.

Também lá estará montada a exposição ‘Mestres do Forró’, com obras do artista João Batista, retratos sobre tela.

Dentro da programação, os músicos farão uma homenagem a Genival Lacerda em uma confraternização musical, e também serão entregues certificados a personalidades, e o Troféu do Encontro Nacional dos Forrozeiros à próxima cidade sede do Encontro.

Além das atrações locais, grupos e artistas de outros países promoverão um intercâmbio entre os amantes do forró.

Eventos integrados reunirão artistas, detentores das matrizes do Forró, dançarinos, produtores culturais, comunicadores, pesquisadores, gestores públicos, que discutirão temas de interesse, além de mesas de discussão para criação de políticas públicas para salvaguarda, promoção e valorização do forró tradicional.

Abertura

Abertura do evento se dará com uma audiência pública para o anúncio oficial do título ‘Forró, Patrimônio Cultural e Imaterial do Brasil’. A organização espera deputados federais e estaduais, representantes do Governo Federal.

O secretário de Estado da Cultural, Damião Ramos Cavalcanti, representará o Governo da Paraíba no evento, já que o governador João Azevêdo estará em Brasília em agenda administrativa.

Cartilha do Forró e debates

Será entregue simbolicamente uma ‘Cartilha do Forró’, de autoria do músico Sandrinho Dupan, de Campina Grande. Entendimentos são mantidos entre a ONG Balaio Nordeste e o Governo da Paraíba para que a publicação seja distribuída nas escolas.

Os debates do 3º Fórum do Forró de Raiz serão na Usina Energisa e as oficinas de dança, em salas do Espaço Cultural, ambos nos dias 14 e 15/12.

Na Sala de Concertos, do Espaço, haverá palestra sobre a ‘Cartilha do Forró’, com a participação de dirigentes escolares. No cinema, serão exibidos filmes com a temática do Forró e a vida nordestina, como é o caso de um documentário sobre Pinto do Acordeon, o filme ‘Estradar’ e um documentário contando o processo até o registro do Forró no Iphan.

Luta de 11 anos

A concessão do título é resultado de uma luta de forrozeiros de todo o país, que supera uma década, liderada pela Paraíba. Foi da Associação Balaio Nordeste e do Fórum de Forró de Raiz da Paraíba de onde partiu a proposta e o projeto para registro.

A ideia de solicitar o reconhecimento do Forró como patrimônio cultural brasileiro surgiu em 2010, durante encontro de Tocadores de Vozes e Sanfonas. Emanuel Braga, técnico do Iphan, sugeriu que Joana Alves, gestora do Balaio Nordeste, produtora e ativista cultural, criasse o movimento pelo título, explicando que isso era possível junto ao Instituto.

Logo após esse encontro, Joana lembra que iniciou a mobilização, recolhendo assinaturas de forrozeiros e material deles para comprovação de sua atividade artística, seus registros e carreira.

No ano seguinte, o projeto solicitando o reconhecimento chegou ao Iphan, encabeçado pela Paraíba, via Balaio Nordeste, e encampado por todos os demais Estados, que seguiram o documento, com a assinatura também de quase 500 forrozeiros.

Passados três anos sem alguma movimentação, Joana Alves vai à Brasília e ouve dos dirigentes do Iphan a justificativa: a demanda era muito grande e não havia recursos. “Então eu disse que, em vez do Iphan ir atrás de dinheiro, nós os forrozeiros iríamos. E foi assim, começamos a circular pelos estados, articulando fóruns locais e mobilizando o setor para captar dinheiro para o projeto de reconhecimento do forró”.

Conseguiram uma verba pequena no início e a utilizaram para custear a viagem que saiu da Paraíba e percorreu os Estados de Alagoas, Sergipe e Bahia, em ônibus cedido pela Universidade Federal da Paraíba.

Joana e seu movimento pró-Forró como patrimônio nacional foram a Brasília conversar com deputados, e Fátima Bezerra, parlamentar do PT pelo Rio Grande do Norte, na época presidente da Comissão de Cultura, recebeu a comitiva e entrou na campanha.

Foram realizadas cinco audiências públicas sobre o tema, duas no RN e uma em Brasília. Depois mais uma em Pernambuco e uma na Paraíba. Nessa ocasião, Fátima Bezerra doou R$ 100 mil para o caixa do projeto, sendo acompanhada pelo deputado Luiz Couto (PT-PB), que doou outros R$ 100 mil.

O então ministro da Cultura, Sá Leitão, transferiu R$ 700 mil para o movimento pró-forró como patrimônio. Com R$ 900 mil em caixa, o dinheiro estava garantido para tocar a pesquisa nacional, que ficou pronta no meio deste ano e produziu o relatório final que será votado pelo Conselho do Iphan.

O objeto

O documento em análise pelo Iphan explica o conceito do que está sendo analisado como Forró: “Entende-se por Matrizes Tradicionais do Forró uma forma de expressão multimodal, cujo núcleo é a performance social de um leque de tipos de música e dança”.

Tudo começou aqui

Os Encontro Nacional de Forrozeiros e Fórum Nacional do Forró de Raiz nasceram em João Pessoa, com a missão de proteger, preservar e fomentar o forró e os seus elementos constituintes tradicionais: os ritmos, as danças, os instrumentos, a formação dos grupos musicais, bem como promover o intercâmbio da comunidade forrozeira e sua cadeia produtiva para debater as condições de produção, circulação e preservação dos ritmos, das danças e das festas que dão forma e sentido a essa expressão cultural identitária da cultura nordestina.

Esses eventos cooperam para a ampliação do potencial humano, artístico e contribuem para o respeito à diversidade musical no país, incentivando o diálogo entre a música tradicional e a contemporânea.

Quem faz

Os eventos são realizados pelo Fórum Nacional Forró de Raiz e pela Associação Cultural Balaio Nordeste, patrocinados pela Energisa e Governo do Estado da Paraíba, co-patrocinado pela Fundação Espaço Cultural (Funesc), Empresa Paraibana de Turismo (PbTur), Rádio Tabajara, Empresa Paraibana de Comunicação (EPC), Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope), Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP),  com apoio da  Usina Cultural Energisa, Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Extensão em Economia Solidária e Educação Popular da UFPB (Nuplar), Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Universidade Estadual da Paraíba (UEPB),  Instituto Orgulho de Ser Nordestino, Associação Respeita Januário e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional(Iphan).

(José Carlos dos Anjos Wallach)