‘Nina’ é pioneira em incluir na cena atores intérpretes de Libras

Teatro - 31, março, 2023

As reações dos surdos que acompanharam a apresentação de ‘Nina’, no Teatro Santa Roza, foram um espetáculo à parte: atores dividiram o palco com intérpretes de Libras, que também atuaram em cena, e, na plateia, o grupo demonstrava o quanto é bonito, responsável, empático e necessário o processo de inclusão.

Em dado momento, a plateia foi uma só por causa de suas reações sem diferenças: para uma parte, o texto fluía normalmente chegando aos ouvidos, na outra os sinais que chegavam aos olhos substituíram o som, entregando a mensagem. Rizadas de uns, agito de mãos de outros (as palmas).

Da última cadeira ao fundo do palco o teatro compôs uma cena bonita. Mas, principalmente, foi pioneiro em levar para dentro da cena a atuação com tradução de sinais. Atores intérpretes de personagens e de Libras quebraram a barreira dos milésimos de segundos para entregar a um público especial, quase na mesma velocidade que o ouvido perfeito consegue.

***Os intérpretes de Libras e atores ladeados pelo grupo de surdos***

Os momentos em que o intérprete de Libras não participou da cena foi visível o desconforto dos surdos em ter que olhar para o lado da cena para poder compreendê-la. Esse descompasso mostrou diferenças nas reações e deixou claro que o caminho da língua de sinais é extenso, para chegar a soluções que só a coragem da inovação permite enxergar.

Como revelou o diretor Léo Palma em roda de conversa com o grupo de surdos, os créditos pela iniciativa vão para os atores que interpretam Libras, Giselle Virgínio e Nemu Lima, que lançaram a ideia e tiveram um dia apenas para ensaios e adaptações, juntamente com os demais atores e equipe técnica. “Eles meteram a cara e fizeram”, disse o diretor.

O resultado do pioneirismo foi visto nas cadeiras da frente, onde ficou o grupo de surdos: olhos vidrados, mãos constantemente agitadas (aplausos) e eles se entreolhando como se dissessem “é disso que precisamos nos espetáculos”.

A novidade deu à terceira apresentação de ‘Nina’ o clima mais emocional nos 50 minutos de peça. (Veja galeria de fotos abaixo)

***A beleza do Santa Roza, momentos antes da entrada do público***

Roda de conversa

Depois, o grupo se apoderou da boca do palco e conversou com o diretor Léo Palma, às vistas do elenco – que estava visivelmente interessado em saber a opinião deles. As expectativas foram confirmadas com muitos elogios e pedidos para que os próximos trabalhos mantenham a ideia.

A gaúcha Carolina Miri disse que ficou emocionada com a participação dos atores intérpretes de Libras em cena. Ver tudo isso, a expressão facial, o ritmo, a estética no palco…fiquei de queixo caído. Nossa! Muito diferente essa experiência, não esperava ver algo desse jeito. É importante que os intérpretes continuem atuando dessa forma para que a comunidade surda tenha acesso às artes”.

O diretor Léo Palma agradeceu a Giselle e Nemu por terem chegado com a proposta. “A gente quase não teve tempo, foi ontem que arrumamos tudo. Sem eles, obviamente, não teria acontecido”.

Giselle disse que sentiu prazer em realizar o trabalho de atuar e interpretar Libras e Nemu disse aos surdos que o Teatro Santa Roza pertence também a eles e que, portanto, “tomem posse”.

Na opinião de Alexandre Magno, o que foi experiência, agora tem que ser contínuo. Pediu que o grupo Gameleira de Teatro divulgue nas redes sociais para mostrar que esse tipo de apresentação teatral inclusiva está acontecendo na Paraíba.

Stephanny Oliveira atentou para que, quando fizerem as divulgações dos espetáculos também usem a interpretação em Libras. “Façam disso uma marca registrada de vocês”.