Prévia teve contratempo, mas ‘Raparigas’ manteve alegria

Prévia teve contratempo, mas ‘Raparigas’ manteve alegria

Eventos - 18, fevereiro, 2019

Entre acertos e um atropelo – o som que ficou a desejar – a prévia do bloco As Raparigas de Chico manteve o pique com um carnaval movido a marchinhas, frevos e criatividade. Encheu de foliões o Bar do Baiano e imediações para ouvir e dançar ao sabor das grandes composições de Chico Buarque e autores da MPB, inclusive locais.

Desde o final da tarde do sábado (16) as mesas começavam a ser ocupadas e às 18h o local reservado para o baile carnavalesco estava tomado. Algumas fantasias, algumas máscaras e muita gente de cara mesmo, frevando.

Embora tem experimentado crescimento ano a ano – este será a oitava vez que o grupo vai pra rua – o Raparigas de Chico não está no ranking dos maiores de João Pessoa e, segundo seus organizadores – não é uma meta a ser alcançada.

O espírito do bloco é manter o clima do carnavais mais antigos, o que ajuda muito ter como trilha sonora as composições de Chico Buarque de Holanda. Mas o fato é que o bloco cresceu e com ele a necessidade de mais estrutura, para acompanhar a expectativa dos foliões, que também querem manter o saudosismo e uma pegada de resistência cultural e política, justo o projeto dos organizadores, desde o princípio.

Coral Mosaico Cultural, Coral Voz Ativa, Yuri Carvalho e Orquestra Sanhauá foram as trações da prévia, nesta ordem de apresentação.

A questão do som

Carnaval se faz em todo lugar, sobretudo num reduto onde a cultura é latente, como no Bar do Baiano. Entretanto, a execução musical ao vivo requer uma atenção a mais. Mesmo tendo no contexto fatores como a dificuldade de patrocínio, esse é um ponto essencial.

Coral Mosaico Cultural após a apresentação

No domingo (17), o maestro Onivaldo Junior, do Coral Mosaico Cultural – primeira atração a se apresentar no palco do Bar do Baiano, na prévia – publicou artigo no site Parlamento PB, criticando o equipamento de som colocado à disposição dos artistas que fizeram parte do line up da festa.

Na apresentação do Mosaico o som bugou e os cantores fizeram o show no gogó, ou seja ninguém que estava a cinco metros do palco percebeu que ocorria ali uma apresentação de coral.

Coral Voz Ativa foi o segundo a se apresentar

Jornalista e músico formado pela UFPB, Onivaldo Junior argumentou em seu texto: “Um arranjador musical passa horas escrevendo melodias, pensando nas harmonias, condução das vozes, ritmos, ornamentos e dinâmicas. Um regente passa semanas ensaiando, ajustando os timbres, passando segurança para os naipes, buscando aliar técnica vocal e interpretação num trabalho coletivo envolvendo mais de 40 pessoas. Mas bastaram poucos minutos de um equipamento de som mal gerido para desqualificar todo o trabalho do coro, cujo profissionalismo faz com que o grupo seja convidado para se apresentar em festivais dentro e fora da Paraíba, mostrando versatilidade estilística e cuidado com os aspectos vocais e musicais dos cantores”. (Leia aqui o artigo do maestro)

A crítica do maestro, fundamentada, motivou desculpas da coordenação do bloco publicada em redes sociais. Mas foi a parte do texto em que o maestro insinua ter havido boicote que não pegou bem em grupos de whatsapp e outras redes sociais.

A poetisa Silvia Patriota, uma das coordenadoras do Raparigas de Chico, reconheceu que o Mosaico foi prejudicado. No Facebook, publicou nota aberta lamentando o imprevisto e se desculpando pelo ocorrido. Também levantou mais algumas questões que demonstram as dificuldades de manter um bloco alternativo em João Pessoa.

Alegria não faltou

O Festar Muito, como tem feito nos últimos três anos, tem participado das prévias e do dia do desfile do bloco Raparigas de Chico. Mais uma vez, no último sábado (16), a festa de lançamento oficial da camisa 2019, se deu dentro do clima prometido pela coordenação do grupo: alegria, pitadas de saudosismo e muita música de Chico.

O ponto negativo foi realmente o som – e é lamentável que o coral Mosaico tenha sido prejudicado. Mas é preciso aceitar que os tais imprevistos ocorrem. Não acreditamos que tenha havido boicote, não há ali mente capaz de tramar uma coisa dessa, basta olhar para o histórico das pessoas que formam o bloco, do seu espírito de paz e seus posicionamentos políticos pela resistência.

Mas também achamos que teria sido justo que, diante da falha do som no primeiro momento, o Coral Mosaico Cultural tivesse sido convidado para cantar após o Voz Ativa.

A nota:

“Nós, que integramos a organização do Bloco As Raparigas de Chico Buarque, viemos a público agradecer a participação de todos os grupos musicais e artistas que tão bem incorporaram o espírito lírico e revolucionário desse Bloco carnavalesco, e se irmanaram conosco nessa dura realidade que é cantar a resistência num país que necessita urgentemente se reinventar.

Como todos sabem o nosso Bloco é independente e sai às ruas todo ano apenas com o apoio do Sebo Cultural, FUNJOPE, venda das camisas e alguns apoios pontuais que por ventura apareçam.

Na prévia de ontem no Bar do Baiano, o som disponibilizado foi de um dos nossos apoiadores. O som foi montado as 13:30 e as 16:00 horas já estava disponível para uma possível passagem, caso algum grupo chegasse e assim o desejasse fazer.

Eu faço parte do Grupo Voz Ativa há 25 anos e sempre enfrentamos dificuldades quanto aos sons que são disponibilizados para grupos com muitos componentes.

Ontem o Coral Mosaico foi bastante prejudicado pela ausência de uma passagem de som.

Deixamos aqui bem claro que todos os grupos convidados para se apresentarem na Prévia do Bloco As Raparigas de Chico Buarque ontem, tiveram o mesmo tratamento e importância, pois é assim que compreendemos a vivência em grupo.

Como contratempos acontecem e sempre acontecerão, ficam aqui as nossas desculpas pelas dificuldades causadas. Aprenderemos mais uma vez com os erros.

No mais, continuaremos seguindo cantando a vida, o respeito, a união, a solidariedade, a tolerância e a resistência.

Lula Livre!

Marielle Vive!

Comissão organizadora do Bloco As Raparigas de Chico”

A história

O Bloco As Raparigas de Chico Buarque foi criado no ano de 2011 por uma grupo de amigos amantes da música de Chico Buarque de Holanda. O nome do bloco foi uma proposição de Ana Costa. Desde então, o sábado de Carnaval, é o dia do grupo se reunir e com ele milhares de foliões que foram atraídos pela proposta do bloco.

Até 2018 As Raparigas ‘desfilavam’ na Avenida Tabajaras, tendo como ponto de concentração O Sebo Cultural. Neste ano, o desfile no estilo ‘concentra, mas não sai’ será Ponto de Cem Réis (Praça Vidal de Negreiros) no Centro de João Pessoa.

(José Carlos dos Anjos Wallach)