Protesto! Esse defunto não é meu!

Protesto! Esse defunto não é meu!

Opinião - 15, julho, 2022

A música do Nordeste é muito diversificada e representativa das matrizes étnicas que em seu território convivem há séculos. Essa longa convivência deu origem uma música peculiar, um espelho fiel da nossa miscigenada formação histórico-cultural. Destas matrizes, o Brasil herdou seu instrumental, seu sistema harmônico, seus cantos, suas danças, ritmo e cadência, junção dos ritmos das três matrizes de formação do nosso povo: os negros (África), os indígenas e os brancos europeus (Península Ibérica).

A cultura é essencial para nossa definição como seres humanos e para nossa formação como nação. É o que nos faz brasileiros diante do mundo. A originalidade com que olhamos para a vida é admirada internacionalmente há mais de um século. Além disso, a Cultura é um importante motor para o turismo. Agora em junho, foram os festejos alusivos aos nossos Santos (Antônio, João e Pedro). Quem é do Nordeste, à medida que maio vai terminando, começa a sentir os cheiros dos arraiais e ouvir os seus sons tão peculiares. É colossal para a economia nordestina.

A disputa é bastante antiga, mas neste ano (2022), ganhou ares de Fla x Flu  nos médios e grandes palcos dos parques e arraiais nordestinos. De um lado, três baluartes do legítimo e puro forró: sanfona, triângulo e zabumba. Do outro, a juventude do gênero sertanejo, nascido da reinvenção da tradicional música caipira e, de longe, o mais popular do Brasil atualmente.

Gosto é bom e se discute, porém, deve ser  no mínimo respeitado. Cada um tem as suas preferências de escolhas. Claro que entre o bem e o mal, continuarei dando total preferência aos atos do bem.

A Secretaria de Estado da Cultura da Paraíba, vem, nestes últimos três anos, em parceria com a Associação Balaio Nordeste, apresentando e sugerindo para as doze (12) Regionais de Cultura do Estado (Paraíba) o São João na Rede. Tive o prazer de coordenar e gestar este projeto nos últimos três anos. O Festival “São João na Rede” constitui-se como um trabalho de divulgação e preservação da identidade cultural da região, através da música popular brasileira nordestina (Forró), buscando dar visibilidade e tornando-a acessível àqueles que normalmente não são alcançados por ela no dia a dia, tendo como contrapartida salvaguardar a cultura do Forró e o São João como patrimônios culturais brasileiros.

Eu acredito na viabilidade, necessidade, importância, validade e extremo valor deste projeto “São João na Rede”. Fato: assim como outros projetos, irá reacender as fogueiras dos nossos corações.

Se não cuidarmos de nossa cultura, os defensores da famigerada “globalização” estão rodeando o morto para devorar a sua carniça.

Juro que, dependendo de mim, não entregarei nada fácil. Com certeza. Contudo, a grandeza multidimensional, o valor político-pedagógico e cultural de nossa identidade cultural é imenso! Possui uma força, uma coerência, um tutano universal. O forró não morrerá. Estou convencido disso. O Forró é madeira de lei que nem o cupim rói. Há “pano pras mangas” no Forró, e ainda sobra.

(Por Bira Delgado – cantor, forrozeiro, poeta / gerente de Música da Secretaria de Estado da Cultura – SecultPB)