A comemoração do aniversário do compositor Chico Buarque, em junho, e um baile de máscaras – cujo nome ainda não foi definido, mas pode ser Raparigas Mascaradas – são dois eventos anunciados pela comissão organizadora do bloco As Raparigas de Chico Buarque para este ano, como arrecadadores de fundos para o desfile de 2020.
O bloco fez o seu oitavo ‘concentra mais não sai’ no sábado (2) no Ponto de Cem Réis, a primeira vez fora do local tradicional – a avenida Tabajaras, em frente ao Sebo Cultural, apoiador do grupo. Bloco chegou bem ao Ponto de Cem Réis e mostrou que o Centro Histórico é a proposta correta para o carnaval de rua de João Pessoa.
A mudança do local não parece ter afetado o público do bloco. Pelo contrário, tornou-o mais representativo dos vários segmentos sociais. Pelas redes da internet, muitos foliões se manifestaram após a noite de frevo, rock, marchinhas e poesia.
O prédio do Paraíba Palace Hotel e os sobrados antigos ao redor da praça Vidal de Negreiros compuseram um cenário bonito para o colorido das Raparigas de Chico. Pena a deficiência de iluminação na praça.
A criatividade e presença de espírito dos artistas que formaram o elenco da festa e a alegria dos atores principais, os foliões, ajudaram a superar outro problema, esse mais grave: a deficiência no som. A qualidade do equipamento disponibilizado ao bloco não chegou a comprometer o evento como um todo, mas fez com que os foliões tivessem que esperar muito entre uma atração e outra. Uma microfonia aqui, ou ali, um estouro de grave, ou sumiço dele, até passam imperceptíveis para o público embalado, mas põe medo nos artistas, que têm que cuidar da imagem.
O som começou com o DJ Brazinha, seguido por Yuri Carvalho. Depois se apresentaram Tony Leon e Kennedy Costa. A quarta atração, já à noite, foi o Grupo Voz Ativa, coral comandado pelo maestro Luiz Carlos.
A banda Mafiota deu sequência aos shows, mas teve que esperar mais de 40 minutos até que fosse socorrido um homem que desmaiou em frente ao palco. Chamado o Samu, a pedido dos músicos, o folião desacordado obteve os primeiros socorros e foi levado pela ambulância. Assim a festa retomou.
Aí veio o maior intervalo para ajuste de aparelhos e microfones da última atração, a boa Orquestra Sanhauá. Foram quase 60 minutos que os foliões tiveram que esperar ouvindo som mecânico antes de poderem saborear os bons acordes do metal da orquestra.
A chuva, que resolveu voltar, afugentou boa parte do público, mas outros tantos prestigiaram a apresentação que foi até próximo de meia-noite.
O bom foi que…
O bloco manteve o público e o diversificou, mostrou que tem força para atrair todos os foliões, de todas as ‘tribos’. Também foi bom ver o número de jovens crescendo nessa massa que tem acompanhado ano ano um bloco carnavalesco que tem na música de um compositor a trilha sonora principal de seu desfile.
Segue abaixo texto de um folião no Facebook
“Ontem o Bloco As Raparigas de Chico Buarque deu um show de lirismo e folia. Emocionante ver nada menos que cerca de 4.000 pessoas de diferentes segmentos sociais e gerações, ambulantes, garis e até PMs cantarolarem as canções de Chico, confraternizarem e se emocionarem. O clima de lirismo e irreverência foi digno de entrar na programação do carnaval brasileiro. Sem falar naquele “clima” típico dos carnavais consolidados: pessoas que não se vêem durante o ano inteiro se encontram n’As Raparigas, as sátiras com o momento político do país, pessoas que à certa altura vão às lágrimas com tanto lirismo e encanto, com a emoção do carnaval.
Se por sete anos o bloco foi firmando um lugar no carnaval da Cidade da Paraíba (até então restrito à semana pré-) no Sebo Cultural (inconfundível QG inicial d’As Raparigas), a mudança para o Ponto de Cem Réis correspondeu à ampliação do público. Ver, ouvir e sentir cerca de 4.000 pessoas cantarolando Chico é mesmo de arrepiar.
Desde o lirismo do Coral Voz Ativa, às interpretações irreverentes e sagazes da Banda Mafiota (para a qual “até Buarque se torna marginal”!), passando pela fronteira política e feminista delimitada pelas componentes do bloco, a tarde-noite de ontem foi de uma magia digna dos grandes carnavais.
As Raparigas não só se consolidaram ontem como bloco de carnaval que ganha a praça, como, de quebra, abriram o carnaval da cidade, num gesto que pode mesmo se tornar histórico. Não só de semana pré vive agora o carnaval da Cidade da Paraíba – graças às Raparigas, que de saída avisam com irreverência: “não me chame pra ir ao Recife, meu bem, hoje eu não saio daqui”…
E a coisa não parece ficar por aí. Já agora o “E tome ladeira” faz sua parte na consolidação de um carnaval na cidade. Ao que tudo indica, sábado e domingo já têm atração das boas para os foliões. E quem quiser que embarque nessa. Hora de concretizar o carnaval da cidade, criar blocos e troças, ganhar as ruas”. (Aécio Amaral)
(José Carlos dos Anjos Wallach)