Registro do forró precisa de mobilização do próprio forrozeiro

Registro do forró precisa de mobilização do próprio forrozeiro

Eventos - 20, novembro, 2017

 

A audiência pública da Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR) do Senado, que discutiu ontem a sustentabilidade do forró, reforçou duas obviedades: vai ser necessário muita mobilização da própria comunidade forrozeira e dinheiro para conduzir pesquisas de campo que construam a dimensão imaterial dessa cultura.

Na reunião realizada na Sala de Concertos do Espaço Cultural, em João Pessoa, pouco menos da metade do auditório estava ocupada, em sua maior parte por ativistas culturais, representantes de instituições e órgãos públicos, além de políticos que formaram a mesa. Eram poucos os forrozeiros.

O evento da CDR mostrou que ao menos parte da comunidade política enxergou o movimento que há pelo menos cinco anos busca a valorização do forró. Além da reunião da comissão do Senado, João Pessoa sedia até amanhã debates, mesas-redondas e exposições do 2º Fórum Nacional de Forró de Raiz e o 1º Encontro Nacional de Forrozeiros, na UFPB e Espaço Cultural.

“A chance que se tem de sucesso nessa caminhada é com mobilização. Quanto mais empenho, envolvimento dos artistas, produtores e agentes culturais, dos governadores do Nordeste, encampem essa luta”, disse a senadora Fátima Bezerra (RN), presidente da CDR.

Destinação de emendas

Para ela, tanto Senado quanto Câmara Federal podem dar contribuições efetivas, na medida em que os parlamentares sejam sensibilizados e destinem emendas junto ao orçamento geral da União para o que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) possa desenvolver todo o trabalho de pesquisa necessário ao registro do forró como patrimônio cultural imaterial. Até agora, a própria Fátima e o deputado federal paraibano Luiz Couto foram os únicos a destinarem emendas para esse fim no orçamento de 2018.

Desde 2011

O processo que pede o reconhecimento do forró nordestino como patrimônio imaterial está no Iphan desde 2011. Não andou por falta de recursos, financeiros e de pessoal.

Segundo o representante do instituto, Hermano Guanaes, que também esteve na mesa da audiência, será um trabalho exaustivo de pesquisa antropológica, que não tem um prazo estipulado para conclusão.

“Nós temos o desafio de um trabalho mais longo e complexo das matrizes do forró. Sabemos que o forró é algo que é brasileiro de fato, está enraizado em todo o Nordeste, mas está no Espirito Santo, Rio, São Paulo e até Brasília. Portanto, é preciso de fato um grande trabalho antropológico envolver a comunidade, os grandes mestres do forró, para que eles apresentem a sua visão e compreensão sobre o que é patrimônio, o que é cultura”, explica.

Visão do artista

O cantor e compositor Santana, outro integrante da mesa de audiência pública da CDR, disse que um dos grandes objetivos da reunião é o da informação. O evento segundo ele, tem o poder de chamar a atenção e, sendo assim, tem o dever também de disseminar a luta pelo reconhecimento do forró.

“Nosso pano de fundo aqui é tornar o forró patrimônio imaterial do Brasil. Acho que para a autoestima do nordestino será muito bom. Acredito que isso deva ser alardeado. É necessário que, após a conversa que teremos aqui, nós sabermos para onde vamos seguir, qual o rumo que a gente vai tomar. É necessário que não fique apenas no papel, e que tenhamos mais atitude do que formalização documental”, disse o artista.

Discussões

Os debates do Fórum e os shows manifestos do Encontro de Forrozeiros prosseguem nestas terça e quarta-feira, no campus da UFPB e Praça do Povo do Espaço Cultural, respectivamente.

Programação

Terça-feira – 21

Auditórios do CCHLA-UFPB

9h – Abertura: apresentação da Carta de Diretrizes e propostas de trabalho

10h30 – Mesas-redondas: ‘Controle e acompanhamento dos aspectos formais nas contratações dos artistas’ | ‘Forró e seus ritmos tradicionais’

14h – Mesa-redonda: ‘O forró na mídia’

14h – Rodas de conversa: ‘Aspectos conceituais do forró’ | ‘Territórios e comunidades’

16h – Palestras: ‘Produção musical independente’ | ‘Forró e tango: diferenças e semelhanças ou duas danças de abraço’ | ‘Sanfonas e sanfoneiros e da zabumba ao pancadão’

Praça do Povo do Espaço Cultural

19h – Shows

1º bloco

Orquestra Sanfônica Balaio Nordeste, Geo Moura, Biliu de Campina, Sivuquinha, Antonio Barros e Cecéu, Pinto do Acordeon, Moisé Lima, Silvério Pessoa, Cesinha Sanfoneiro

2º bloco

Geraldo Cardoso, Climério Pessoa, Genaro do Acordeon, Rogério Rangel, Genival Lacerda, João Lacerda, Truvinca & João Calixto, Jurandir da Feira, Jurandir da Feira, Assisão, Targino Gondim, Liv Morais e Edilsa Ayres, Cristina Amaral, Gitana Pimentel e Nando Cordel

Quarta-feira – 22

Auditórios do CCHLA – UFPB

Rodas de conversa: ‘Sustentabilidade e políticas públicas para o forró – parte 1’ (8h) / ‘Sustentabilidade e políticas públicas para o forró – parte 2’ (10h30)

Mesas-redonda: ‘A internacionalização do forró’ (8h) / ‘O forró como conteúdo pedagógico’ (10h30)

Palestras: ‘O Museu dos 3 Pandeiros e a construção de memórias’ (8h) / ‘Forró como linguagem cultural do povo nordestino’ (10h30)

14h – Plenária de encerramento (auditório 1)

19h – Shows na Praça do Povo – Espaço Cultural

Dejinha de Monteiro, Claudinho, Antonia Amorosa, Salatiel de Camarão & Verônica Sedres, Andre Macambira, Jaiminho de Exu, Flávio e Cícera Leandro, Joquinha Gonzaga e Donizete Batista, João Paulo Júnior, Marcos Farias e Sabrina Vaz, Luiz Gonzaga da Rocha, Roberto Cruz, Andressa Formiga, Terezinha do Acordeon, Francisco Elmo de Oliveira, Josildo As, Ademario Coelho, Cesinha do Acordeon, Alcimar Monteiro, Chambinho do Acordeon e Genival Lacerda.

 

(José Carlos dos Anjos Wallach)