Resistência e garra superam obstáculos na abertura do ‘São João na Rede’

Resistência e garra superam obstáculos na abertura do ‘São João na Rede’

Eventos - 13, junho, 2020

 

A primeira noite do Festival São João na Rede foi uma demonstração de resistência e força do forró raiz. Sem dinheiro para produção e com apoio acanhado da grande mídia – com raras e bem-vindas exceções – o maior evento junino online do Brasil encerrou sua transmissão de abertura agora há pouco demonstrando, sobretudo, dois pontos: o forró de raiz precisa se empoderar das tecnologias, apesar de todas as dificuldades que cercam seus artistas (principalmente as dificuldades financeiras); e esse estilo – que é muito mais ligado às raízes nordestinas e ao cotidiano do seu povo – une o Brasil.

O ‘Arraiá da Resistência’, especial de abertura comandando pelo cantor, compositor, pesquisador e radialista Marcus Lucenna, ultrapassou os primeiros 60 minutos de transmissão com várias dificuldades técnicas, mas embalou pelo conteúdo anunciado e pela força de forrozeiros de vários Estados.

Na bancada, como segundo apresentador, atuou o ex-senador Lindberg Farias, admirador e apoiador da música popular nordestina, e um dos que defendem a transformação do forró como patrimônio cultural imaterial do Brasil, cuja pesquisa que fundamenta o processo está em curso, com recursos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

As transmissões começaram às 16h e terminaram às 23h desta sexta-feira (12), Dia dos Namorados. Os garotos irmãos Lucas Gabriel e Luiz Miguel, assim como a também pequenina Julie Caldas, eles de Campina Grande e ela de João Pessoa (PB) abriram o programa. Os três são exemplos de sementes que estão sendo plantadas nesse terreno fértil da música nordestina: eles adoram o forró e desde cedo se agarraram a instrumentos para iniciar um processo que, pode sim, ser multiplicado país a fora, em escolas convencionais ou de música, conservatórios, projetos educacionais.

Desfilaram pela tela do YouTube nomes como Neidinha Rocha, Onildo Barbosa, Edsilson Barros, Jarbas do Acordeon e Ítalo Pay, este último artista de Goiana (PE) que faz o estilo ‘zabumba mundi’.

Também participaram o poeta Jessier Quirino (PB), Sheila Borges e a quadrilha junina de Fagundes (PB), Crispiniano Neto, Genildo Costa, Jadiel Guerra, Chambinho do Acordeon, Jó Silva, o artesão e declamador Roosevelt Fernandes (PB), banda Deusa do Forró, Trio Mossoró, apresentação gastronômica com a Barraca da Chiquita (pratos nordestinos), Gercili Barros, Lucinda Marques, Marcos Farias, Sabrina Vaz, Antônio Francisco, Forró Pimenta do Reino, o compostor e instrumentista Jarbas Mariz, o maestro Marcelo Caldi, Marcelo Mimoso, Marcelo Neto, Jorge Simas, Kyldemir Dantas e Roberta de Recife.

Do Fórum de Forró de Raiz, participaram também Joana Alves (coordenadora nacional) e coordenadores estaduais Frank Amaral, Jarbas do Acordeon, Marinaldo e Jadiel Guerra, além do coordenador geral do Festival, Climério de Oliveira, que é artista, pesquisador e professor de música da UFPE.

Na equipe de apoio atuaram Manuela, Ian Ribeiro e Rômulo Aranha.

Lá em Portugal

Um dos momentos surpreendentes foi quando um casal de Portugal registrou a própria dança na sala de casa, onde acompanhava o evento, durante a apresentação de Daniel Gonzaga, filho de Gonzaguinha e neto do rei Luiz Gonzaga.

Ao longo de sete horas de exibição – misturando lives e material gravado – a abertura do São João na Rede foi uma vitória diante dos obstáculos: juntar produção de 14 Estados e fazer um programa ao vivo é missão gigantesca. E com certeza será assim neste sábado (13), quando será a vez do programa montado pelos forrozeiros do Distrito Federal, e a partir do dia 18 até o dia 29 de junho, quando então o evento se encerra.

“Grandes redes sofrem para realizar uma transmissão dessa envergadura. Imagine nós forrozeiros, que estamos fazendo com tão poucos recursos. Somos uma rede de amor, de resistência”, disse o apresentador Marcus Lucena, elogiando o trabalho de Alfranque Amaral da Silva, coordenador do Fórum Forró de Raiz de Campina Grande (PB), que atuou como master na transmissão e também ajudou na apresentação das atrações.

O que se espera para este sábado e para os outros 12 dias de Festival é muito conteúdo vibrante da música nordestina de raiz cantada e executada pela região mãe do ritmo e por outros recantos do país.

 

(José Carlos dos Anjos Wallach)