Sinta a Liga Crew lançará a primeira gravação, ‘Quem diss’

Sinta a Liga Crew lançará a primeira gravação, ‘Quem diss’

Música - 11, dezembro, 2016

 

O manto da invisibilidade elas definitivamente já deixaram para trás, cinco meses após se lançarem como grupo – num show de Karol Conka, em julho passado. Já deu pra sentir a liga, e a rapidez com que a coisa colou projeta o que essas garotas conseguirão.

Numa conversa com o blog, o próprio grupo demonstra surpresa com a repercussão da sua ideia de unir mulheres que dominam as diversas linguagens da cena hip hop: “O projeto criou uma força e tomou uma projeção que, de fato, não esperávamos. Inicialmente faríamos apenas um show, mas a repercussão foi tanta que resolvemos dar continuidade”, conta a MC Kalyne Lima.

Segundo ela, o surgimento do grupo tomou impulso a partir da necessidade por um fim no que as integrantes classificam de “invisibilidade feminina” na cena hip hop local. “É um problema sofrido pelas mulheres que atuam nesse meio, embora entendamos não ser um problema exclusivo do hip hop”, avalia.

O primeiro registro

No domingo (18), no bar cultural Vila do Porto, no Centro Histórico de João Pessoa, o Sinta a Liga Crew lançará a sua primeira música gravada, ‘Quem diss’ (expressão usada no hip hop que significa responder a alguma provocação, segundo explica Kalyne).

No mesmo evento será apresentado um mini doc realizado durante as gravações, no estúdio Peixe Boi, com produção do DJ Guirraiz (único homem no Sinta a Liga) e masterização de Luiz Café, que já trabalhou com Emicida, Karol Conka, Ogi, MV Bill e outros desse porte.

Para 2017 o projeto é lançar o primeiro EP e, sobretudo, fazer com que a produção musical do grupo circule. “Já temos contatos com vários produtores interessados no nosso show. Agora é cruzar os dedos torcer pra tudo dar certo”, vibra Kalyne. Tá pegando liga.

“Recado aos machistas”

É assim que essa música deve funcionar, explica Kalyne. A letra fala da mudança que as mulheres buscam. Ela diz que houve uma época em que a aceitação e aprovação masculina no hip hop eram importantes, mas hoje as garotas estão criando, realizando seus eventos e conquistando seu público. “Nesse universo não cabe machismo, assédio, homofobia, violência doméstica, nem invisibilidade. Vários homens entendem e fortalece, e os que insistem em ser contrários passam despercebidos. Essa é a geração de mulheres empoderadas e ‘Quem diss’ fala desse poder”, argumenta Kalyne Lima.

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As garotas e Guirraiz: a formação do Sinta a Liga Crew / Foto: Leo Thomas

As fontes

O grupo toma por base o rap, mas assegura que vários gêneros podem ser percebidos no que é produzido ali. Sonoridade não é problema: samba, MPB, dance, hall, reggae e outros ritmos estão lá.

“Nossas letras se deixam influenciar sobretudo por nossas próprias experiências e no que vemos do mundo”, explica Kalyne Lima. Ela afirma que o projeto tem teor político acentuado, lançando mão de temas como feminismo e direitos da mulher, mas sem dispensar inspirações mais leves e dançantes, que retratam a alegria e a resistência cultural.

Consciência

O grupo diz ter absoluta clareza do seu lugar no cenário, por isso acredita desempenhar papel importante tanto no hip hop em particular, como no ambiente cultural como um todo.

Essa consciência vem da própria percepção do peso que o conjunto oferece. A proposta é levar ao palco os quatro elementos do hip hop: a discotecagem de Guirraiz, as danças urbanas de Giordana Leite, o grafite de Witch (Priscila Lima) e o rap de Kalyne Lima, Preta Langy, Julyana Terto e Camila Rocha.

“Na atualidade somos o único projeto a oferecer uma apresentação tão completa e dinâmica. Nosso trabalho é todo autoral e a música, a dança e o grafite são desenvolvidos simultaneamente”, diz Kalyne.

O trabalho vigoroso nasce de um discurso genuíno: “Também há o aspecto da resistência, de sermos a maioria formada por mulheres que lutam contra a invisibilidade por parte de membros do hip hop há muito tempo. Então nosso trabalho busca atingir, além do público masculino, já bastante familiarizado, o público feminino e gay, de forma a agregar e potencializar esses segmentos. Afinal, o hip hop é um movimento cultural que dá voz às minorias. Não faz sentido seus membros promoverem a segregação”, contextualiza Giordana Leite.

Estradas individuais

As garotas e o dj Guirraiz são de João Pessoa e já tinham suas carreiras individuais quando resolveram se juntar. Perceberam que a união potencializaria o trabalho e assim iniciaram o processo compartilhando, promovendo e dando visibilidade à produção umas das outras. “Essa é uma prática comum entre artistas, mas tem pouca participação masculina quando se trata das produções de mulheres”, revela Camila Rocha.

O grupo teve a oportunidade de apresentar conjuntamente os trabalhos solos de Preta Langy e Camila ao lado do grupo Afronordestinas. O resultado foi muito bom e a química que se viu no palco rendeu o surgimento de novas agendas.

“A longa experiência das meninas dá a impressão de que esse já é um grupo maduro, mas ele nem completou cinco meses e já coleciona um release de dar orgulho a qualquer artista”, comemora Guirraiz.

E a sacada do nome?

Afora a clara provocação, que traz uma sacada bacana dentro do propósito do grupo, Sinta a Liga se iniciou como um coletivo que procurou potencializar o trabalho feminino na cadeia de produção cultural.

Foi aí que ficou claro para os integrantes que seus talentos somados poderiam gerar impacto: “Sinta a Liga é esse movimento que nos une, é a feminilidade, a sexualidade. É a ideia que podemos ser o que quisermos”, reforça Kalyne.

No mais, as meninas estão felizes, curtindo o apreço do público, a chegada para baixar a música e por terem reunido no primeiro trabalho uma equipe de peso.

 

Serviço:

Lançamento do single ‘Quem Diss’

Local: Vila do Porto

Dia: 18/12 – 16h

 

Performance:

DJ Isa Queiroz

DJ Guirraiz

 

Vernissage:

Camila Rocha

Priscila Lima (Witche)

Wanessa Dedoverde

Vanesa Cardoso

Exibição do minidoc produzido por Rieg, retratando a gravação do single

Ingresso: R$ 10

 

(Por José Carlos dos Anjos Wallach)