“Sou madeira de dar em doido, na mão de um sem-juízo”

“Sou madeira de dar em doido, na mão de um sem-juízo”

Música - 3, abril, 2018

 

O papo com Severino Xavier de Souza nunca é lento, nem pouco. Muito menos enfadonho ou morno. Biliu de Campina, o ‘Carrego’, sempre vai proporcionar uma conversa estimulante, reveladora e sincera.

Foi assim durante pouco mais de duas horas em que esse artista genuinamente nordestino, que faz questão de manter as raízes de sua arte – e valorizá-las – conversou com o blog sobre fazer música, a paixão pelo coco, as companhias que lhe ajudaram a construir a poesia rimada no pandeiro, as brigas (sempre boas e honestas) e os causos, muitos causos, que viveu nessa estrada de décadas.

“Gosto de reviver, não de resgatar, porque nossa música não precisa de resgate. Minha proposta não tem nada de novo, nem de velho. Sou é contra os modismos excessivos”, se define ele, com a irreverência que lhe marca a personalidade na vida pessoal e artística. “Sou sim, xiita fundamentalista em relação às nossas raízes culturais”.

É nesse caminho que ele deve seguir e basear o repertório que prepara para o próximo período junino. Figura idolatrada na terra do ‘Maior São João do Mundo’, ele reconhece que nessas paragens o forró tem menos espaço que outros ritmos, como sertanejo, por exemplo, e culpa a mídia por isso.

Mas tem uma leitura diferente: “Olha, se eu fosse depender de governo e de prefeituras, minhas putas morriam de fome”, dispara Biliu. Para ele, não importa se colocam na programação das festas juninas elementos culturais de outras regiões, desde que respeitem o espaço destinado ao forró.

“Pode colocar sertanejo, eletrônico, até rock, mas que tenha o forró também”, diz.

No entendimento de Biliu, foram criados limites regionais como se fossem selos de cada região: “Inventaram selo sertanejo, selo breganejo…meu selo é universal”.

Paixão pelo coco

O músico reconhece sua preferência por esse ritmo. “Gosto mais de compor, tocar e cantar coco. Porque é pedagógico, didático. Antes de uma criança ir para o computador é bom ela memorizar 80 palavras na letra C (como no coco). Isso serve para impostação, pronúncia, dicção…”, argumenta.

Biliu garante: “Se você pegar um rap e administrar, dá coco. E se tirar a administração, as regras, dá rap”.

Ele conta que fez um ‘coco rapeado’ e foi questionado por um grande artista da música regional. Esse e outros causos, Biliu, ‘o carrego’, conta na entrevista em vídeo, que está no nosso canal no YouTube.

Assista a entrevista aqui: https://www.youtube.com/watch?v=Fw85A-upnLA&feature=youtu.be

 

(Entrevista a José Carlos dos Anjos Wallach e Snides Caldas)