Surge uma caravana com a força do forró tradicional

Surge uma caravana com a força do forró tradicional

Eventos - 28, junho, 2022

Os forrozeiros tradicionais – aqueles que a mídia já se acostumou a chamar ‘forrozeiros raiz’ – ganharam espaço genuíno para a sua arte: a caravana de shows do São João na Rede, que neste ano assumiu o formato híbrido, com shows presenciais e transmissão online.

(Entrada do arraial junino montado pela Prefeitura de Poço de José de Moura / Fotos: Zeca Wallach)

O evento criado pela Associação Cultural Balaio Nordeste e patrocinado pelo Governo da Paraíba, foi sucesso nesse primeiro ano de shows presenciais em praças públicas de 12 pequenas e médias cidades. Esses locais foram escolhidos em parceria com a Secretaria de Estado da Cultura (SecultPB) de maneira a levar o projeto às 12 Regionais de Cultura em que a Paraíba é geograficamente representada.

Centro Cultural Fênix, Mamanguape
Turma animada em Vieirópolis
Decoração em Mamanguape

O interesse demonstrado por gestores municipais em ter em suas cidades o evento e, sobretudo, o público registrado em algumas cidades para ver artistas paraibanos de forró raiz são dois fatores que projetam belo futuro para o festival, que pode sim se tornar um contraponto às festas plásticas e cheias de ritmos que nada têm a ver com a tradição junina financiadas por dinheiro público.

O Festival São João na Rede e seu formato de caravana é um movimento forte, e a presença de um caminhão palco é, ao mesmo tempo, nostálgico e excelente marketing para fixar a ideia de resistência, justamente o ambiente em que os forrozeiros e o forró tradicional têm sobrevivido há anos.

O Festival não será um antídoto ao grande equívoco administrativo e cultural em que se transformaram as festas juninas financiadas por grandes prefeituras da Paraíba, mas, com certeza será uma opção para o público que aprecia o forró pé de serra, o forró raiz e os músicos tradicionais. Também será um gerador de renda para esses artistas, que terão chance de mostrar sua arte em palco exclusivo.

Tranças em Coremas

Vimos e ouvimos algumas joias

O Festar esteve em seis das 12 cidades que receberam o ‘caminhão do forró’ e viu shows que poderiam ser apresentados em qualquer palco junino, pela qualidade e tipo do conteúdo, e pelo artista.

Em Pocinhos, por exemplo, vimos um rei majestoso dominar o palco como sempre fez quando ainda tínhamos o ‘Maior São do Mundo’. Biliu de Campina cantou e encantou com seu forró pesado, seus cocos e a simplicidade da arte nordestina. Antes de brilhar sobre o ‘caminhão do forró’, o rei Biliu desfilou com humildade entre o público e posou para fotos com fãs. Naquele momento, a raiz e a verdade de sua arte eram reconhecidas com sinceridade popular.

Biliu de Campina fazendo seu forró pesado em Pocinhos

Já em Coremas, no encerramento do Festival, ocorreram dois outros shows importantes, em que Tilico do Acordeom e o Mestre Marrom entregaram apresentações magistrais. Os dois escalaram excelentes bandas e incluíram grandes sucessos do forró nos seus repertórios.

Tilico e banda
Marrom, ao lado de Abdias do Acordeon

O quilombola santa-luziense Tilico tocou todos os ritmos juninos e fez uma sessão de músicas instrumentais, mostrando a famosa habilidade com a sanfona. Já Marrom, subiu ao palco acompanhado por Abdias do Acordeon, afamado sanfoneiro em Campina e redondezas.

Damião Moreno

Na etapa de Vieirópolis, presenciamos o domínio completo de Damião Moreno, levando ao público na praça pública e pela web o melhor do forró nordestino, fazendo jus às grandes apresentações do saudoso Pinto do Acordeom e do Mestre Luiz Gonzaga.

Família Freitas
Quadrilha improvisada
Fogueira cenográfica em Coremas

Em Poço de José de Moura, conhecemos o valor da Família Freitas, pai e filhos fazendo o fino do forró tradicional e pondo todos pra dançarem na praça pública. O grupo tem renome na região e tivemos a grata satisfação de ver e ouvir, pela primeira vez, o show dele.

Na mesma noite presenciamos momentos significativos, como foi o show de Célia Mello. Adepta de um tipo de forró com elementos mais modernos, apreciamos o respeito dessa artista que, ao ser escalada para um evento de forró raiz, não se fez de rogada e cantou todo um repertório nesse ritmo. O mesmo palco teve Chico Amaro, um forrozeiro arretado da região.

Célia Mello
Chico Amaro
Orquestra Sanfônica Balaio Nordeste
Helayne Cristini

Logo na noite de abertura, em Mamanguape, a Orquestra Sanfônica Balaio Nordeste fez um show bonito, tendo em boa parte do tempo ao seu lado a competente cantora Helayne Cristini. Presença de palco, roupa de cangaceira e voz marcante, Helayne mandou um grande baile de forró no pátio do Espaço Cultural da cidade, que recepcionou o evento com fogos e bela decoração.

Jessier Quirino
Dona Joana Alves (Balaio Nordeste) em busca de assinaturas para moção em prol do título de patrimônio mundial ao forró

Em Mogeiro, o brilho ficou com a cantoria, o repente e a prosa de Jessier Quirino, A praça virou quintal aconchegante para se ouvir aqueles causos deliciosos da vida sertaneja e caririzeira. Mais uma vez, naquele momento, o São João na Rede mostrou porque é diferenciado e genuinamente forte na sua proposta de ser nordestino.

Público atento em Mogeiro

O III Festival São João na Rede teve outros shows aos quais a cobertura do Festar não esteve presente, mas que foram igualmente importantes, como o de Ananias do Acordeom, Os Fulano, Gitana Pimentel, Filhos do Forró, Forró Trakino, Bella Raiane, Luizinho Calixto, Os Anselmos, Ripa na Chulipa, entre outros.

(José Carlos dos Anjos Wallach)