Vamos comemorar registro do forró no São João de 2021

Vamos comemorar registro do forró no São João de 2021

Música - 26, agosto, 2019

 

O Brasil, sobretudo o Nordeste, poderá comemorar durante o São João de 2021 o registro do forró como patrimônio cultural imaterial. Isso é o que prevê o músico, escritor e pesquisador Carlos Sandroni, coordenador da Associação Respeita Januário, entidade que será responsável pela pesquisa de campo sobre as matrizes do ritmo.

Carlos e mais seis pesquisadores da associação estiveram em João Pessoa para participar do 2º Encontro Nacional de Forrozeiros, na sexta-feira e sábado, no Espaço Cultural.

Foi a primeira atividade de campo da equipe depois de assinado o contrato de trabalho com o Instituto Nacional do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan).

“Colhemos contatos. Não foi bem um trabalho de entrevista e pesquisa, até porque o momento do encontro não é propício a isso, mas foi útil para conhecer pessoas, recolher informações e preparar a pesquisa de campo”, explica Carlos Sandroni.

O pesquisador aproveitou o encontro para explicar aos artistas forrozeiros como será o trabalho de detecção da matrizes tradicionais do forró. O cronograma começará mesmo pela Paraíba e depois seguirá para cada um dos estados nordestinos, e depois o restante do Brasil.

A entrevista com Carlos Sandroni, da Associação Respeita Januário, no Correio da Paraíba

Os elementos que serão pesquisados

A música, a dança, os mestres, conversas, comportamentos, instrumentos. Uma série de itens podem compor as matrizes do forró, explica Carlos Sandroni. Para o público em geral, a música vem logo à mente quando se fala no termo para registro do patrimônio cultural, mas o arco de possibilidades é bem maior.

Enfim, vários elementos serão pesquisados, medidos, monitorados, num trabalho em que os pesquisadores usarão métricas para quantidade, abrangência, importância e influência, profundidade e conteúdo cultural das expressões.

O pesquisador explica que será fundamental ouvir e identificar todas as relações, por isso o trabalho de campo é meticuloso e demorado.

“Um dos pontos difíceis será estabelecer os parâmetros da dança do forró. Há algumas maneiras de dançar forró: em Pernambuco, por exemplo, a dança é muito diferente da que é praticada em Itaúnas (ES), onde se realiza o mais tradicional festival de forró do país”, explica Carlos Sandroni.

O trabalho também vai identificar os mestres do forró, talvez as maiores fontes de informação para a pesquisa. Gente como o zabumbeiro Quartinha, Reginaldo Pereira de Melo, um dos zabumbeiros mais requisitados do país e, para muitos, o melhor do mundo.

A pesquisa vai estabelecer o que Quartinha representa para as pessoas, e esse é o ponto. “O que se sabe é que o reconhecimento popular é o grande tesouro cultural do artista, mas na maioria dos casos não corresponde ao que ele efetivamente ganha financeiramente”, diz Sandroni.

Nesse tocante – projeta – as informações levantadas a partir da pesquisa para o registro do forró serão importantes também para um reconhecimento profissional mais cristalino. “E nesse contexto, pode ajudar, inclusive, na questão dos cachês desses artistas tradicionais”, avalia o pesquisador.

Caminhada do Forró, em Recife

Onde o forró está mais preservado?

O pesquisador não fará juízo de valor, porque os subsídios que extrairá de seu trabalho de campo não estão focados nisso. Mas ao final dessa jornada, o país terá um grande painel sobre a saúde do forró. Será possível obter um quadro mais nítido da situação dessa cultura em decorrência de diversos fatores.

Outra ilustração sobre o teor da pesquisa: segundo Carlos Sandroni, a Paraíba tem algo em torno de 40 tocadores de fole de oito baixos. O trabalho vai confirmar ou retificar essa informação e vai avaliar em que outros Estados há mais desses artistas. Se em um lugar há mais folistas do que em outro, a informação será útil, por exemplo, para orientar políticas públicas que identifiquem a razão disso e preservem essa arte.

Nesse contexto, será possível, também, saber se na terra do ‘Maior São João do Mundo’ o forró ainda é uma força, ou se é uma expressão cultural mais ameaçada do que em outros Estados ou regiões do país.

Zabumbeiro Quartinha

Onde a pesquisa chegará

Carlos Sandroni e sua equipe vão iniciar o trabalho de campo pela Paraíba, concentrando-se na Capital e região mais próxima do litoral, em princípio. Depois, Campina Grande e outras cidades do interior, à medida que a coleta de informações indique as necessidades.

“Teremos sim recursos para chegar ao interior dos Estados. Iremos às pequenas, sítios, lugarejos, onde houver indícios marcantes dessa cultura”, assegura o dirigente da Associação Respeita Januário. Cidades como Crato, Cachoeira, Feira de Santana e Exu estão no roteiro.

Carlos Sandroni prevê que a pesquisa de campo, a sistematização das informações, elaboração do dossiê e análise do conselho do Iphan levarão cerca de dois anos, de forma que o registro deve ocorrer pouco antes do São João de 2021. “Isso é o que esperamos, para comemorarmos na festa”, torce.

(José Carlos dos Anjos Wallach – texto publicado no Caderno de Cultura do Jornal Correio da Paraíba do domingo, 25/9/19)