Vieira apresenta em ‘Crise dos 20’ passaporte para o solo

Vieira apresenta em ‘Crise dos 20’ passaporte para o solo

Música - 23, novembro, 2021

Crescer é um processo doloroso, mas também doce. Em meio às angústias e desejos que se atritam com uma caminhada que não é fácil, há redescobertas diárias. Como se não bastasse, no meio do caminho desse turbilhão inerente à chegada da vida adulta, tinha uma pandemia.

O resultado disso é ‘Crise dos 20’, novo trabalho de Vieira, projeto do paraibano Arthur Vieira, que chega às plataformas digitais nesta quinta-feira (25/11).

O disco é distribuído pela gravadora norte-americana OAR, que também é responsável por lançar os trabalhos de outros artistas nacionais como Boogarins, WRY e Carabobina, e da carreira solo de Nate Brenner, da banda norte-americana Tune-Yards. ‘Crise dos 20’ foi realizado com recursos da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, com o apoio da Prefeitura Municipal de João Pessoa, por meio da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope) e Fundo Municipal de Cultura, e do Governo Federal, por meio da Secretaria Especial da Cultura e Ministério do Turismo.

O lançamento marca um novo momento do projeto, que deixa de ser uma banda e se transforma na expressão artística solo de Arthur, que alça novos voos com o auxílio precioso do produtor musical Benke Ferraz (Boogarins). Agora com 25 anos de idade, Vieira faz um apanhado desse processo de amadurecimento no novo disco, com letras que refletem sua vivência nos palcos e na vida cotidiana em João Pessoa, Paraíba.

As nove faixas já estão disponíveis em plataformas como Spotify, Deezer, Apple Music e outras, e conta com participações de artistas como Teco Martins (Rancore), Bixarte, A Fúria Negra, os músicos Dinho Almeida e Ynaiã Benthroldo, além do próprio Benke Ferraz, todos da Boogarins. No campo das composições, um destaque é a canção “Anúncio”, presente do paraibano Totonho.

Dar forma ao sonho

Crise dos 20’ é o primeiro trabalho em estúdio de Arthur Vieira desde o lançamento de Parahyba Vive, EP lançado no início de 2018 fruto do concurso Red Bull Break Time Sessions, no qual o então grupo se sagrou vitorioso após concorrer com mais de uma centena de bandas de todo o Brasil.

Os três anos que separam esses lançamentos podem parecer pouco, mas quem viveu seus vinte e poucos sabe que cada dia que passa pode ser uma vida inteira e é isso que o álbum busca traduzir em canção.

Embora não fale diretamente sobre a pandemia, a chegada do disco no final de 2021, em um momento em que o vírus arrefece no Brasil faz com que a ‘Crise dos 20’ inevitavelmente faça uma conexão com esta crise da década de 20 do novo século, em que lidamos com frustrações e incertezas na busca de um futuro que ainda parece nebuloso, mas sabemos que está lá, em algum lugar.

“O futuro dá medo e é preciso fazer algo disso”, resume Arthur Vieira.

A base do som de Vieira, calcado na canção, permanece ali, mas em questão de estética sonora, esse é um dos trabalhos mais experimentais de sua carreira.

“Isso é a crise dos 20, é uma estética suja, caótica, mas que faz sentido quando você olha de perto e escuta o que eu estou falando através daquelas músicas”, explica Arthur Vieira. Para organizar esse esqueleto e ir ornamentando suas ideias, ele contou com a ajuda de Benke Ferraz, um artista o qual ele já admirava.

Ao pensar no disco, uma das principais influências de Arthur era o disco Lá Vem A Morte (2017), de Boogarins, banda na qual Benke é guitarrista e vocalista. Com a chegada da pandemia e os planos do lançamento de um disco sendo postergados mais ainda, Vieira teve uma ideia. Despretensiosamente, decidiu mandar uma mensagem privada pelas redes sociais para Benke, contando do projeto. Quando ele já não pensava ter mais possibilidade de resposta, ela chega, três meses depois. Começa então uma série de trocas de mensagens e videoconferências para discutir como viria a ser esse trabalho conjunto.

Era final de 2020, uma época em que as notícias sobre uma possível vacina que nos tirasse do inferno da pandemia de coronavírus ainda eram iniciais, sem tantas certezas. Arthur decide mergulhar de cabeça no projeto e relata o envolvimento de Benke nesta aventura. “Ele entra não apenas como produtor, mas como músico, compositor, arranjador… Benke pôs o projeto no colo”, revela. Ferraz compõe com Vieira as faixas “Pandemônio” e “Dias Passam”.

Ao definir a estética sonora do disco, as parcerias começaram a surgir naturalmente, algumas delas intermediadas por Benke, como Ynaiã Benthroldo e Dinho Almeida, ambos da Boogarins. “Essa organicidade foi muito importante para o cultivo do disco. Eu e Dinho nos aproximamos, jogamos LoL, foi bem divertido”, conta Arthur, se referindo ao jogo online League of Legends.

O baiano Giovani Cidreira aparece no disco cantando na faixa “Estágio”, uma composição de Vieira feita ainda em 2014, no começo de sua carreira, mas que apenas agora é apresentada em grande estilo. Na música “16h40”, mais parcerias. Além da bateria de Ynaiã, da Boogarins, os teclados são comandados pelo músico Adriano Gaiarsa, que integrou a Banda Eva por dez anos durante os anos 2000.

Em “Praia e Ganja”, mais uma participação de um integrante da Boogarins, desta vez o vocalista Dinho Almeida. Completando a faixa, a bateria de Ian Medeiros, da banda potiguar Mahmed. O lado gamer de Arthur se manifesta na música “Capuz da Morte de Rabadon”, uma referência que os jogadores de League of Legends com certeza devem captar. O músico Teco Martins, conhecido pelo trabalho na banda Rancore e agora trilhando carreira solo, divide os vocais da faixa.

O primeiro single escolhido para divulgar ‘Crise dos 20’ foi ‘Fluente’, faixa que conta com a presença de Bixarte e A Fúria Negra, cantoras e rappers potentes, que têm como missão falar sobre corpos invisibilizados e de temas urgentes que são caros à comunidade negra e LGBTQIAP+. A parceria se deu de maneira despretensiosa, nos bastidores do Toroh Music Festival e tudo flui organicamente, resultando em uma das músicas mais interessantes do registro.

Big Bang da vida adulta

A faixa que abre o disco já dá o tom da reflexão proposta por CRISEDOS20: “Pandemônio”. O violão acústico que parece carregar a tranquilidade de um mar sereno de fim de tarde vai sendo contaminado por uma ambientação percussiva e ruidosa que se avoluma à medida em que a faixa avança. Será o prenúncio da tormenta?

Arthur define ‘Crise dos 20’ como “uma mistura de quebras de expectativas, amadurecimento e a absorção de vivências que resultam no evento catastrófico que é se tornar adulto”. Os dias de inocência e nos quais podíamos rir despreocupadamente ficaram no passado e agora é preciso encarar de frente nossos fantasmas. E como se não bastasse o maremoto interno, a rotina de uma vida burocrática e que exige “conformidade” com uma pretensa normalidade também adicionam mais elementos ao suco de caos de um jovem adulto que tenta se manter são. “É como se tudo estivesse se dissolvendo e se destruindo nesse verdadeiro Big Bang da vida adulta”, filosofa Vieira.

A capa

Ficha Técnica

Arthur Vieira – Cantor, Compositor, instrumentista

Benke Ferraz – Produtor, músico

Ernani Sá – Músico

Ruy José – Músico, Técnico

Daniel Jesi – Músico

Rayan Lins – Produtor Executivo

Roan Nascimento – Fotografia

Rana – Arte Visual

Sobre Vieira

Nascido na capital da Paraíba no carnaval de 1996, filho de mãe preta do interior pernambucano, e pai branco ausente e não-declarado, Arthur Vieira cultiva sua estreita relação com a música encharcando-se da plural enxurrada de referências do pós-tudo, dos mestres da Tropicália e dos seus heróis vizinhos, respirando desde novo à base de música negra em sua voz agridoce. 

Estudou canto e flauta transversal quando mais novo, e hoje conclui sua formação superior em publicidade. Tudo se interliga no final, pois se encontra profissionalmente entre as pontes da tecnologia, que conectam a arte e a comunicação em geral. Mesmo muito novo, já tem uma significativa bagagem musical, colecionando bandas, produções musicais, produções técnicas, prêmios e performances. 

Sua ponta de lança é o projeto Vieira, projeto iniciado em 2014 com o lançamento do EP Comercial Sul em 2015. A banda logo chamou a atenção do público, da mídia e de produtores, colecionando aparições importantes, a exemplo dos festivais Dosol (RN), Mundo (PB), Guaiamum Treloso (PE), SIM São Paulo (SP), da coletânea internacional Music From Paraíba e da playlist Novo Rock Brasil da OneRPM. O EP “Parahyba Vive” veio no início de 2018, resultado da vitória do Red Bull Break Time Sessions, no qual Vieira venceu mais de 100 bandas brasileiras.

Outro projeto encabeçado por Arthur Vieira é Ervas&Gunjahpop, formado por Ernani Sá e Arthur Vieira. Ernani é integrante da banda-fôrra, parceira de Vieira desde o início, já que ambos os projetos surgiram no mesmo estúdio de criação no Centro Histórico da cidade de João Pessoa, Paraíba. Em 2016, com o intuito de aprender mais sobre os diferentes processos de produção e criação musical, Ernani Sá e Arthur Vieira começam a produzir o primeiro EP de Ervas&Gunjahpop. 

Todas as etapas do processo desse trabalho (produção, gravação e mixagem) foram realizadas no quarto de Ernani Sá e todas as sessões foram regadas a café, ervas, meditação, sintetizadores e simuladores de fita. No show ao vivo, Ervas&Gunjahpop agrega o parceiro Big Jesi nas programações, samplers e baixo.

Sobre a Toroh

A Toroh é uma agência, produtora e selo que trabalha com artistas paraibanos independentes, cuja atuação está no agenciamento artístico, produção executiva, gestão de carreira e relações públicas. São 15 anos de experiência e um crescente casting que apresenta a qualidade artística e a diversidade cultural de uma das regiões mais criativas do Brasil. É responsável também por importantes eventos como o Festival Grito João Pessoa (2007), Festival Mundo (2005) e Toroh Festival (2017).

Gestão de carreiras, venda de shows, relações públicas, produção de turnês e elaboração de projetos são algumas das especialidades da Toroh. São estudos, planos, orçamentos, metas e estratégias, mesclando técnicas de produção, marketing, comunicação e administração de maneira integrada e planejada para alavancar os artistas rumo à sustentabilidade e sucesso.

Com o objetivo de fortalecer a música feita na Paraíba, levando essa produção para o Brasil e para o mundo, é dado o suporte profissional necessário aos artistas do casting, que atualmente conta com nomes como Seu Pereira e Coletivo 401, Rieg, Parahyba Ska Jazz Foundation, Cabruêra, Totonho E Os Cabra, Vieira, banda-fôrra, dentre outros.

(André Luiz Maia – da assessoria do artista + Fotos: Roan Nascimento)