Zambujo faz leitura lusitana da obra de Chico Buarque

Zambujo faz leitura lusitana da obra de Chico Buarque

Música - 27, dezembro, 2016

 

O cantor português António Zambujo adora o Brasil. No YouTube, em postagem de 2010, encontramos ele cantando ‘Sampa’, de Caetano Veloso. E mais recentemente o artista lançou ‘Até Pensei que Fosse Minha’, um álbum que traz 16 temas de Chico Buarque. Oitavo CD de Zambujo, o trabalho sai pela Som Livre.

Em passagem pelo Rio de Janeiro onde se apresentou no evento Vivo, o artista conversou pelo telefone. “Mais cedo ou mais tarde gravaria clássicos da obra de Chico Buarque”, disse.

“Acho que a qualquer altura iria acontecer um disco com músicas do Chico, só não imaginei que seria tão cedo. Houve uma série de fatores que se conjugaram e que fizeram com que eu antecipasse essa ideia de homenageá-lo, sobretudo, o fato de ter me aproximado mais do próprio Chico nas últimas vindas ao Brasil e de termos falado muito sobre música e obviamente, sobre a obra dele. Chico é o mais importante autor da história da música cantada em português. Sempre admirei a sua obra musical e literária, mas jamais pensara vir a conhecê-lo”, revela.

No repertório de ‘Até Pensei que Fosse Minha’, estão os clássicos de Chico como ‘Futuros Amantes’,  ‘Injuriado’, ‘Cecília’ (de Chico e Luiz Claudio Ramos), ‘Geni e o zepelim’, ‘Sem Fantasia’, ‘Folhetim’, ‘Cálice’ (que Chico fez com Gilberto Gil0, ‘Joana Francesa’, ‘Até pensei’, ‘Januária’, ‘João e Maria’ (do paraibano Sivuca e Chico), ‘ O meu amor’, ‘Morena dos olhos d’água’, ‘Nina’, ‘Tanto mar’ e ‘Valsinha’ (de Chico e Vinicius de Moraes), que fecha do disco.

Seleção difícilantonio-zambujo-1

Zambujo conta que escolher as músicas foi a parte mais complicada do trabalho: “O mais difícil, sem dúvida. Começamos com 100 músicas e o mais difícil foi ir subtraindo, ir fazendo uma seleção definitiva das 16 que gravamos”.

Com arranjos de Marcello Gonçalves (violonista do Trio Madeira Brasil), que fez a direção musical, com sugestões de João Mário Linhares (produtor executivo do disco) e do próprio Chico, o artista português solta a voz e afirma ter se permitido  “descobrir mais facilmente os caminhos interpretativos. Tentamos fazer um disco mais coerente possível, mas sempre escolhendo a música pela música, sem qualquer outra questão”.

Um momento forte do CD é a canção ‘Geni’ na voz de um cantor português. E ficou sensacional. “Como disse antes, Chico é um universo interminável, eu poderia gravar outras tantas dele que admiro. Geni é uma delas”.

‘Sem fantasia’, a quinta faixa, é cantada com Roberta Sá com quem Zambujo já tinha gravado a mesma canção ao vivo. E ele rasga seda para falar da intérprete brasileira: “Roberta é uma cantora maravilhosa, que admiro muito e com quem gosto muito de cantar, conversar, tertuliar. Já tínhamos cantado Sem Fantasia em encontros, saraus, mas agora gravamos juntos no disco. Conheci Roberta antes ainda de fazer o meu primeiro show no Brasil e ela é uma das pessoas responsáveis por esta minha aproximação com esse belo país musical”.

Dueto pede som alto

Não tem como não aumentar o som quando Zambujo e Chico fazem dueto com  ‘Joana Francesa’, que o português chama de um presente. “Não estava à espera nem era minha intenção estar a chateá-lo para ter uma participação ativa no disco, portanto, foi um bônus e uma coisa que me deixou muito feliz poder tê-lo assim, mais próximo, na gravação de Joana Francesa, que escolhemos para gravar em dueto. Já as músicas Nina e Cecília foram indicadas por Chico”.

Um bom disco parido entre Portugal e o Brasil com os músicos Marcello Gonçalves, Zé Paulo Becker e Ronaldo do Bandolim (Trio Madeira Brasil), além da sanfona de Marcelo Caldi. Deu tudo certo.

Zambujo já havia gravado com músicos brasileiros, mas o novo trabalho é primeiro disco integralmente gravado dessa maneira.

“O título Até pensei que fosse minha, tirado de uma das canções do disco, diz bem o que tentamos fazer, que foi trazer um bocadinho as músicas do Chico para o nosso universo musical, para a minha forma de cantar, para a  forma de tocarmos em banda”, registra.

Sobre a participação de Carminho no disco, Zambujo afirma: “Carminho é uma cantora incrível, uma grande amiga e que, como eu, conhece e admira a obra genial de Chico Buarque. Já havíamos cantando Sabiá juntos (de Chico Buarque e Tom Jobim), agora fizemos O meu amor”.

Virá um dia ao Nordeste

Há muito ligado no Brasil, Zambujo não botou os pés no Nordeste, mas não faltará oportunidades. “Estive no país algumas vezes, mas conheço menos lugares do que gostaria. Ainda pretendo fazer muitos shows em muitos sítios diferentes, inclusive aí no Nordeste”. Para 2017, ele garante que a agenda será intensa no Brasil e na Europa.

 

(Por Kubitschek Pinheiro / Fotos: Tiago Cação)