Medow toma ‘Maior São João’ de Campina

Medow toma ‘Maior São João’ de Campina

Eventos - 28, junho, 2021

(…) O que a gente faz

É por debaixo dos pano

Prá ninguém saber

É por debaixo dos pano

Se eu ganho mais (…)

O refrão que permeia a música ‘Por debaixo dos panos’, sucesso na voz de Ney Matogrosso, funciona como uma espécie de narrativa da relação entre a Prefeitura de Campina Grande e a Medow.

A empresa do ramo do entretenimento venceu uma das licitações que entregaram à iniciativa privada, nos últimos anos, o maior produto de marketing turístico da cidade e uma tradição que a Rainha da Borborema construía há mais de três décadas.

A prefeitura deu primeiramente à Aliança, de Pernambuco, e depois à Medow, de Campina, a incumbência de realizar e a oportunidade de faturar com o ‘Maior São João do Mundo’.

Para o então prefeito Romero Rodrigues – hoje pretenso candidato ao Governo do Estado – entregar à empresa o São João de Campina era uma maneira de torná-lo rentável, tirando do erário os gastos. A festa, com certeza, foi rentável para as empresas, mas um desastre do ponto de vista cultural, porque se transformou numa festa do peão de segunda linha – a primeira ocorre em Barretos. Foram pelo menos três anos no mesmo diapasão.

Nesta segunda-feira (28), soube-se que a mesma Medow, que andou de braços dados com a Prefeitura, acabou passando a perna, não apenas nos gestores, mas em toda a cidade: registrou no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) o nome ‘Campina Grande – O Maior São João do Mundo’.

A informação – exclusiva – foi divulgada em primeira mão pelo blog ‘Pleno Poder’, de João Paulo Medeiros, do Jornal da Paraíba online.

O processo, de número 919561284, foi iniciado ainda em maio do ano passado e concluído em janeiro deste ano.

Embora eticamente questionável – já que o título é nacionalmente reconhecido como um evento de Campina – a atitude da Medow parece ser legal.

O que é de pasmar é que a gestão do prefeito Bruno Cunha Lima só soube da armadilha da Medow na última sexta-feira (25), cinco meses depois do alçapão se fechar. Dá até para suspeitar de tramoia ainda maior porque o caso sugere muitas linhas de pensamento e teorias.

Bruno manteve as festas juninas campinenses no colo da Medow. Mesmo realizando o São João virtual, em forma de apresentações pela internet, a gestão entregou o ouro ao bandido, quando continuou a parceria com a empresa também na ‘festa remota’.

Dessa forma, a marca ‘Campina Grande – O Maior São João do Mundo’ não pertence mais aos campinenses, mas sim à Meadow Promo Serviços de Eventos e Estruturas LTDA – ME.

Traição e sabedoria ou desleixo e amadorismo? Ou tudo junto?

Difícil dizer, porque não se sabe ao certo se ‘O Maior São João do Mundo’ já era uma marca legal, mesmo sem registro, ou era apenas um título de domínio público. E nem a Prefeitura de Campina Grande se posicionou até a noite desta segunda-feira a respeito.

O procurador geral Aécio Melo disse que o município “estuda a possibilidade” de acionar a justiça para derrubar o registro. Esse discurso reforça a tese de que Campina passou todos esses anos com o ouro na mão e nunca registrou sua propriedade.

Todas as gestões, desde 1983, foram relapsas quanto a isso. E agora a Rainha chupa do dedo.

Com o registro na mão, a Medow é a dona do ‘Maior São João do Mundo’ e quem quiser usar terá que pagar pela marca, até Campina.

Início

O São João Campinense surgiu em 1983, mas foi durante a gestão do então prefeito Ronaldo Cunha Lima que tomou corpo e ganhou a marca, cunhada pelo próprio Ronaldo, de Maior São João do Mundo. Marketing certeiro que só fez voar cada vez mais alto ano a ano.

(José Carlos dos Anjos Wallach)