Como Matheus Brisa semeou tempestade

Como Matheus Brisa semeou tempestade

Música - 2, julho, 2020

 

O jovem cantor Matheus Brisa, 27 anos, três meses após conseguir arregimentar a classe cultural de João Pessoa com uma campanha em busca de donativos para tratamento de saúde, voltou a mobilizar as pessoas, desta vez para acusá-lo de fraude.

Pessoas que o ajudaram agora estão se organizando para denunciá-lo na Justiça, exigir reparação e encaminhamento dos donativos ao Hospital do Câncer para tratamento dos pacientes que têm realmente a doença.

Um grupo foi formado para levantar provas da fraude e instrumentalizar queixar na polícia e futuros processos contra Matheus.

O começo

Num relato feito em suas redes sociais, meses atrás, Matheus disse que estava com câncer, após fazer um périplo por diversos médicos. O texto motivou 469 doadores a colaborarem com sua campanha de donativos pela plataforma eletrônica Vakinha: a meta era arrecadar R$ 15 mil para fazer face a exames mais detalhados, iniciando o tratamento. O drama contado por Matheus fez com que as doações chegassem a R$ 23.648,87.

Depois do empenho de muitos amigos, que dispuseram de tempo e dedicação em suas casas e no hospital Napoleão Laureno – onde o artista passou dois dias em busca de diagnósticos – o quadro melhorou com a regularização da alimentação e outros cuidados.

Matheus então sumiu das redes, não deu notícias sobre o progresso de seu quadro de saúde e não deu transparência ao que estava ocorrendo com o dinheiro da campanha.

No final do mês passado, Matheus reapareceu com novo número telefônico após comentários e áudios circularem por redes sociais levantando suspeição em torno da Vakinha Eletrônica (ID 1011438). Trouxe uma nova versão, não estava com câncer, e sim com um processo ulceroso provocado pela bactéria H. Pylore. (Leia sobre isso abaixo)

As desconfianças, decepções…

Tiana Dantas, uma ativista cultural da cena pessoense foi uma das primeiras a socorrer, mas que também começou a desconfiar dele a partir de suas conversas desconexas sobre o quadro de saúde.

Ela conta que a amiga Nathália Bella lhe mandou o vídeo em que Matheus Brisa contava seu drama e pedia ajuda: “De imediato fiz uma feira e levei pra ele. Passei por um câncer e sei que a alimentação é uma das coisas principais na luta contra a doença, porque é preciso se manter forte para o tratamento”.

Na noite desse mesmo dia (28 de abril), logo no princípio da pandemia por Covid-19, as duas amigas foram até a casa de Matheus e realmente o encontraram muito franco porque não estava conseguindo se alimentar e, em consequência, não conseguia fazer nada dentro de casa. Elas fizeram comida e uma faxina, abriram janelas, limparam o que podiam. O ambiente ficou bem melhor.

“Com a alimentação, Matheus recuperou um pouco das energias e chegou a tocar violão pra gente. Pediu que Nathália cantasse uma música”, lembra Tiana.

Foi com a ajuda de Tiana que ele conseguiu com muita rapidez ser atendido no Hospital Napoleão Laureano. O fato dela fazer um trabalho de solidariedade (promovendo atividades como brechós em que arrecada para os doentes de câncer) facilitou seu contato com a direção do hospital, agilizando o atendimento.

Dois dias depois, Matheus deu entrada no Napoleão Laureano, onde ficou internado por dois dias, sendo medicado e mantido sob dieta, o que melhorou em muito sua condição física. Mas o hospital não pôde- mantê-lo lá porque é preciso um encaminhamento pelo SUS, o que é feito regularmente pela Unidade Básica de Saúde.

Na sexta-feira, Matheus foi liberado pelo hospital e sua irmã o levou para uma casa em Lucena. Voltou no domingo e Tiana ofereceu a própria casa para que ele pudesse ter companhia e seguisse a bateria de exames pedida pelo médico.

Durante as segunda, terça e quarta-feira, Matheus foi hóspede de Tiana. Foi tempo suficiente para ela perceber conversas sem nexo da parte dele. “Falava que foi abandonado, quando na verdade o pai dele leva mantimentos para ele, que mora sozinho”, conta.

“Matheus disse que faria biópsia na Oncovida, mas faço parte do meu tratamento lá e não há nenhum cadastro em nome dele. Isso fortaleceu minha desconfiança. E agora estouraram esses áudios e comentários em redes sociais, confirmando o que temia”, relatou Tiana Dantas.

Revolta

O baixista Ricardo Bass foi quem ofereceu-se e ficou como acompanhante nos dois dias e duas noites que Matheus Brisa estava no Laureano. Revoltado, ele fez um áudio sobre o caso, criticando fortemente a atitude de Brisa.

“Eu ajudei esse pilantra aí. Dormi com ele no hospital, numa pandemia do car…… Ele dormindo e eu chorando, achando que ele estava com câncer. É um pilantra”, disse.

No seu Instagram, Bass também acusou Matheus:

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Quero informar a quem possa interessar que acionei meu advogado para nos próximos dias mover ações cíveis e criminais contra o senhor Matheus Alexandre Bezerra Cirne, vulgo "Matheus Brisa", com o único objetivo de reaver os danos que o mesmo tem causado a minha pessoa. Nos últimos dias, tenho recebido inúmeros áudios e mensagens onde sou ameaçado, caluniado, difamado e injuriado por este cidadão e seus familiares. Acusações seríssimas, criminosas, levianas e impublicáveis. Um verdadeiro ataque organizado contra a imagem de minha pessoa e a honra de um pai de dois filhos. Um amigo que serviu para ajudar na hora da necessidade e que agora foi colocado como alvo para legitimar uma narrativa que só busca justificar o injustificável: o desvio de finalidade dos valores arrecadados através de uma campanha que se valeu da imagem de diversas personalidades e artistas. Pessoas que emprestaram a sua credibilidade para praticar um bem para alguém que agora mostra sua verdadeira face de aproveitador e manipulador vulgar. Agradeço ao apoio que tenho recebido dos familiares e amigos e espero que a polícia investigue e que a justiça julgue as condutas desse individuo.

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Postagem de Erick de Almeida no Facebook:

 

“Raspou o cabelo rápido”

“Eu estava suspeitando dessa doença dele desde o início… Achei estranho demais ele que mal entrou no Laureano já ter raspado a cabeça…

Sem falar que ele fazia vídeos pálido, como se tivesse com maquiagem. Fora que ele não mostrou realmente nenhum laudo, nem receita, nem nada.

Apenas num dos vídeos mostrou bem superficialmente uns laudos dizendo que lá estava o valor do tratamento. Onde não dava para identificar nada no vídeo.

Aí nessa época, alertei aos meus amigos mais próximos que tomassem cuidado. Mas deixei para lá, pois uns ficaram até com raiva de mim, alegando que não tinha coração, pois o cara estava doente e muito grave.

Então, hoje (29/6), soube que em algum grupo do whatsapp, as pessoas estavam comentando isso. Que ele deu um golpe e gastou parte do dinheiro com dívidas e a aquisição de uma moto. Fiquei indignada, pois alertei a muitos que tomassem cuidado e averiguasse essa história, antes de saírem postando e ajudando financeiramente Matheus.

Mas enfim. Estou totalmente de fora desse negócio e espero que a verdade seja dita e que se tiver culpado, pague pelo que fez”.

O relato acima é de Patrícia Morais, integrante do grupo ‘Qual é a boa Jampa?’, de Whastapp, onde o blog tomou conhecimento do drama então relatado por Matheus e publicou uma matéria sobre o assunto. (Leia esse texto aqui)

Outra que se diz indignada com Matheus Brisa é a cantora Polyana Resende: “Esse é o sentimento de todos, que o ajudaram direta ou indiretamente. Eles deixou todos no vácuo, não foi transparente. Não deu feed back sobre a doença. Eu também soube dessa história da moto e de algumas dívidas que ele pagou. Então é assim, o que nós queremos é que ele se retrate, que fale a verdade. E, já que não vai precisar do dinheiro para pagar um tratamento de câncer, que ele pegue a grana e repasse para uma Instituição – a Casa da Criança com Câncer, o Hospital Laureano, qualquer uma. Para que esse dinheiro vá para quem realmente está em tratamento dessa doença, porque esse era o objetivo da campanha.

O drama contado em abril

“Olá me chamo (Matheus), sou músico de música autoral do Gênero pop, a minha vida toda venho lutando para divulgar meu trabalho apresentando voz e violão em projetos sociais nas praias pessoalmente pessoa por pessoa sem ganhar nada só para alcançar meu sonho de viver da minha própria arte, e no ano de 2018 passei por uma dificuldade com uma doença chamada H.Pylory uma doença no estomago sofri por 1 ano perdi mais de 25 quilos e consegui com ajuda de Deus para me livrar da doença, sendo que no ano de 2019 eu comecei A sentir novos sintomas sendo em outra região, apareceu um linfonodo localizado na virilha, fiz vários exames e os médicos sempre me dizia que não era nada gastei 8 mil reais em exames com dinheiro de shows de barzinho que eu fazia e tinha juntado. com o tempo a doença se agravou e no ano 2020 eu desabafei com um amigo meu sobre os sintomas é ele arrumou uma ajuda com a mãe dele, que trabalha em um hospital aqui em João Pessoa-PB o linfonodo que estava na virilha agora esta em todo o corpo entre abdomen, pernas, pescoço, tórax, axila é braços. e ai descobri que estava com um câncer chamado (linfoma de Hodking) quando eu estava atrás do tratamento aconteceu a pandemia do corona vírus no Brasil, sendo muito afetado minha Família por Não ter condições financeiras de me ajudar é os hospitais estão em colapso por conta da pandemia sou um paciente que corre risco fatal e peço de coração ajuda de todos que sentir o amor de ajudar uma pessoa que sorri sempre por dias melhores e que deseja viver para transbordar alegria como sempre através da música toda ajuda será uma alegria imensa.  Que Deus possa te dar em dobro por me ajudar a sonhar e sorrir novamente!”

O que Matheus diz agora

Na última segunda (29), dia em que o blog conseguiu o novo contato de Matheus, uma menagem por Whatsapp fez com que ele retornasse com uma ligação. Eram 22h10.

Matheus ouviu a demanda da entrevista e começou seu relato, reafirmando que desde 2018 trata de problemas de saúde. Citou o nome da oncologista e cirurgiã Elen Gonçalves, que teria indicado uma cirurgia para retirada de uma glândula na região inguinal (o canal inguinal é uma passagem obliqua de 3 a 5 cm de comprimento através da parte inferior da parede abdominal. Situa-se paralelo e superior ao ligamento inguinal. Nos homens encontra-se ocupado pelo funículo espermático e nas mulheres pelo ligamento redondo do útero e vasos que o acompanham. Ele contém o nervo ilioinguinal).

“Mas a cirurgia foi cancelada por causa da pandemia”, disse Matheus. Segundo ele, a médica afastou-se porque que teria contraído a Covid-19, tendo sido encaminhado para o médico Marcel Saráiva, que requisitou, em formulário do Hospital Laureano, um laudo para instrumentalizar procedimento ambulatorial. A requisição data do dia 27 de abril e cita como “descrição de diagnóstico” um “linfoma”, descrevendo também perda de peso e outros sintomas ditos por Matheus.

“Então o doutor indicou os exames e eu não tinha dinheiro. Fui piorando e em cinco dias perdi 9kg. Então, pedi do fundo do coração. Com a ajuda comecei a fazer os exames. Foram detectadas hemorragias por causa de uma úlcera. Passei duas semanas internado no Napoleão Laureano”, lembra, dizendo que o primeiro tratamento da sua doença, nos anos anteriores, foi à base de antibióticos.

Sobre a acusação de que teria compra uma moto zero km, ele nega e diz que quem tem carro e moto é a sua irmã.“Ainda estou gastando muito com alimentação e remédios. O que falam de mim é fake news”.

Ele rebateu a acusação do músico Ricardo Bass de que teria comprado a moto e inverte a narrativa, dizendo que foi Bass quem pediu ajuda de R$ 3 mil para dar um lance com o qual retiraria uma moto de consórcio para ajudá-lo no sustento da família (mãe idosa e doente e dois filhos pequenos).

“O dinheiro que tenho aqui é para o meu tratamento”, teria dito Matheus a Ricardo. Teria sido essa negativa que, segundo Matheus, fez com que Ricardo Bass o acusasse de ter usado o dinheiro para comprar uma moto.

No relato em áudio ouvido em grupos de WhatsApp, Ricardo diz que após semanas de sumiço, Brisa chegou à sua casa “numa moto zerada”.

Matheus diz ter realizado a cirurgia para a retirada de uma glândula na região inguinal direita. E que o novo laudo é “pangastrite erosiva moderada, com sinais de sangramento recente”.“Isso eu descobri há pouco”, disse.

Os dois únicos documentos que Matheus apresentou ao blog para sustentar sua nova narrativa:

Requisição de exame

O novo laudo, a doença real

Para conhecimento: a bactéria que vive no nosso estômago

A H. Pylori é uma bactéria que está presente no estômago de mais de 40% da população. Ela pode ser responsável pela dor de estômago. Em 90% dos casos, ela provoca só uma sensação de barriga estufada, como quando a comida não cai bem.

Já os outros 10%… “Essa bactéria pode causar uma gastrite, que é uma inflamação importante dentro do estômago, que vira crônica e, muitas vezes, se transforma numa úlcera. Essa bactéria é a maior causa de úlcera no ser humano” explica o gastroenterologista Flavio Antonio Quilici.

Desses casos, 1% pode evoluir para câncer de estômago. E é por isso que a bactéria deve ser combatida. Para começar, saneamento básico e higiene são as melhores armas. Se mesmo com todos os cuidados ela invadir o corpo, é preciso usar medicamentos para acabar com a H. Pylori (Fonte: Instituto Oncoguia – página na web: http://www.oncoguia.org.br/conteudo/h-pylori-positivo-e-sinal-de-cancer/12291/7/)

 

(José Carlos dos Anjos Wallach)